O Panorama Atual da Política Externa Brasileira
O recente aumento de tarifas imposto por Donald Trump às exportações brasileiras evidencia um mundo em transformação. O que impressiona e preocupa é a resposta hesitante do Brasil. Não se trata apenas de uma indignação inicial, mas da falta de uma estratégia robusta que corresponda à gravidade da situação. Em um cenário onde o país se encontra isolado e vulnerável, sua relevância nas esferas internacionais parece estar em declínio.
De acordo com o diplomata Rubens Barbosa, durante os primeiros seis meses do governo Trump, o Brasil nem ao menos estabeleceu um canal de diálogo com os Estados Unidos, um sinal claro das prioridades da política externa brasileira na atualidade.
A Imagem de Conciliador em Declínio
Por muitos anos, o Brasil cultivou a imagem de um país conciliador, respeitado por sua tradição diplomática e habilidade em mediar conflitos. Hoje, essa percepção está se desvanecendo. O país não lidera mais nenhuma agenda global, não é ouvido nos fóruns internacionais que moldam o século XXI e passou a ocupar uma posição marginal nas discussões relevantes. A retórica do presidente Lula, que oscila entre agressividade e paternalismo, perdeu a força que outrora teve, relegando o Brasil a uma figura secundária. Atualmente, o país é pouco consultado, temido ou escutado.
As tarifas elevadas não apenas refletem tensões externas, mas também ressaltam fragilidades internas. O governo falhou em mobilizar o Congresso e governadores das regiões mais afetadas, demonstrando um descompasso entre a gravidade da situação e a articulação institucional necessária. Assim, a política externa parece estar desconectada da realidade nacional, sem uma coordenação eficaz entre as frentes diplomática, política e econômica.
Descompasso entre Discurso e Realidade
O contraste entre o discurso governamental e a prática é evidente. Enquanto Lula promove o multilateralismo e o diálogo internacionalmente, sua retórica interna acentua a polarização entre classes sociais. Isso torna difícil atrair o empresariado, que continua sendo visto como um adversário simbólico. A eficácia da política externa é comprometida na falta de coesão interna e harmonia entre os Poderes da República, além de um diálogo produtivo com governadores de diferentes espectros ideológicos.
Sem uma base parlamentar sólida e articulação com o setor produtivo, o governo se vê como um mero espectador dos acontecimentos. A desconexão de Lula com a realidade do país e do cenário global em mudança é alarmante.
Impactos Econômicos Diretos
As consequências econômicas dessa situação não são insignificantes. Há um aumento da aversão ao risco, a valorização do dólar e a manutenção de taxas de juros elevadas. Esses fatores têm um impacto social imediato, afetando o emprego, a renda e a inflação. Enfrentar esses desafios não será possível com frases de efeito ou declarações de soberania vazias.
Como destacou a analista política Dora Kramer, “a partir de agora, é necessário agir com engenho e arte”. Essa afirmação não é apenas uma recomendação, mas uma realidade que reflete a dureza do jogo internacional, que, em muitos aspectos, se mostra desfavorável ao Brasil. Caso ocorram prejuízos significativos, será inevitável responsabilizar as lideranças políticas, pois, no presidencialismo, a responsabilidade não é difusa.
A Importância da Diplomacia
A retórica não deve substituir uma estratégia clara. Em tempos de hostilidade internacional, o Brasil depende ainda mais da diplomacia, da prudência e da inteligência estratégica. Contudo, atualmente, esses atributos parecem ausentes da política externa brasileira, que tem se deixado levar por impulsos retóricos e alinhamentos simbólicos pouco eficazes.
A perda de relevância internacional não é apenas um reflexo das transformações geopolíticas, mas também é resultado de escolhas erradas e de um projeto errático na política externa. O Brasil de 2025 requer ações que vão além de slogans ou declarações vazias de princípios; precisa de uma inserção ativa, credibilidade e habilidade de dialogar com potências globais e parceiros estratégicos.
Guerras comerciais não são vencidas com bravatas ou trincheiras ideológicas. O Brasil, diante do crescente protecionismo, não pode abrir mão da diplomacia — especialmente quando esse é um dos poucos instrumentos ainda disponíveis.