Fraudes em Sistema de Câmeras da PM: Revelações Impactantes
Bruno Dias, um dos responsáveis pela implementação do sistema de câmeras corporais da Polícia Militar de São Paulo, fez declarações alarmantes sobre a segurança da plataforma. O ex-policial militar e especialista em provas digitais descreveu que o programa, que armazena milhões de gravações de ocorrências, possui “inúmeras vulnerabilidades” e é “totalmente passível de fraude“.
As informações foram divulgadas pelo Metrópoles em 28 de março de 2024. De acordo com Dias, a plataforma Evidence permite que policiais modifiquem as datas das gravações e atribuam vídeos a usuários anônimos, além de ter a opção de deletá-los. Um caso emblemático sob investigação interna da PM envolve a morte de Joselito dos Santos Vieira, de 47 anos, ocorrida no Morro do José Menino, em Santos.
Dados obtidos pela reportagem mostram que, no dia 18 de março de 2024, a major Adriana Leandro de Araújo, que ocupa uma posição de destaque na PM, acessou imagens gravadas pela câmera de um dos policiais envolvidos no incidente. Ela alterou o nome do policial e a data do evento, e posteriormente deletou a gravação.
Um Sistema Vulnerável em Questão
Bruno Dias, que atuou no setor de tecnologia do 37º Batalhão Metropolitano desde 2016, acompanhou de perto a implementação das câmeras corporais em São Paulo. Sob a liderança do coronel Robson Cabanas, que defendia a segurança dos equipamentos da Axon, o batalhão foi pioneiro na adoção desses dispositivos.
No entanto, após críticas ao modelo de câmeras, Dias foi afastado da PM. Ele relatou que, ao longo do tempo, policiais encontraram formas de manipular o sistema, visando a ocultação de evidências que poderiam comprometer suas ações.
O ex-PM explicou que qualquer policial habilitado pode alterar suas próprias permissões e deletar vídeos em massa. Para ele, “o sistema possui inúmeras vulnerabilidades. É totalmente passível de fraude. Existe uma permissão chamada ‘alterar a permissão’, que permite que um policial se coloque como administrador e manipule o sistema à vontade. Aproximadamente seis policiais por batalhão têm esse poder, podendo apagar vídeos avulsos ou em grupos, alterar a autoria e até modificar data e hora das gravações. Isso prejudica a legitimidade das provas”.
Segundo Dias, o método mais comum para localizar uma gravação é por meio da data e hora. Assim, modificar essas informações torna desafiador o rastreamento em um banco de dados que armazena cerca de 20 milhões de vídeos. “Como você vai encontrar? Para isso, são necessários os metadados, que são completamente manipuláveis no sistema. A situação se torna caótica”, comentou.
Estratégias para Manipulação do Sistema
Uma das táticas mencionadas por Dias para fraudar o sistema consiste em atrasar a inserção da câmera corporal no aparelho de extração utilizado para transferir as gravações para a plataforma Evidence. Isso resulta na exclusão automática das imagens após três meses, prazo em que os dados são mantidos.
O ex-PM também detalhou outras práticas, como encher intencionalmente a memória das câmeras para que continuem em uso por dias, mas sem registrar imagens. No caso da morte de Joselito, a análise do acionamento das câmeras corporais mostrou que os policiais pressionaram repetidamente diversos botões, como os de volume, provavelmente para descarregar a bateria rapidamente.
Além disso, Dias relatou que, em várias ocasiões, policiais envolvidos em homicídios alegam em seus depoimentos que não estavam utilizando câmeras corporais, apesar de estarem equipados. Essa tática é utilizada com a expectativa de que as imagens possam ser eliminadas por meio de roubo ou manipulação no sistema Evidence.
Posicionamento da SSP
A Secretaria da Segurança Pública (SSP), em resposta às denúncias, confirmou que está conduzindo uma sindicância para apurar os fatos com rigor. A instituição ressaltou seu compromisso com a legalidade e a transparência, afirmando que condutas que não estejam alinhadas aos princípios institucionais não serão toleradas. Caso alguma irregularidade seja confirmada, medidas apropriadas serão tomadas para responsabilizar os envolvidos.
A reportagem também tentou contato com a major Adriana Leandro de Araújo, mas até o momento não recebeu resposta. A empresa Axon, responsável pelos equipamentos, também não se manifestou. O espaço permanece aberto para comentários.