A Trajetória de Rosa Roisinblit

Rosa Tarlovsky de Roisinblit, uma das figuras mais emblemáticas da luta pelos direitos humanos na Argentina e vice-presidente da associação Avós da Praça de Maio, faleceu no último sábado, dia 6 de setembro, aos 106 anos. Ela era reconhecida como presidente honorária da instituição que busca os filhos de pessoas desaparecidas durante o regime militar entre 1976 e 1983.

De maneira comovente, a organização publicou em suas redes sociais: “Rosita, como a jovem geração a chama, partiu deixando um legado imenso e uma trajetória admirável na defesa dos direitos humanos, tanto na Argentina quanto internacionalmente”.

A vida de Rosa foi marcada por uma tragédia pessoal, pois sua filha, Patricia, foi sequestrada durante a ditadura. Patricia estava grávida de oito meses quando foi capturada em Buenos Aires. O desaparecimento de seu marido, José Pérez, na cidade de Martínez, ocorreu no mesmo dia. A Avós da Praça de Maio compartilhou um relato detalhado sobre essa dolorosa história.

Segundo a associação, “Patricia foi levada juntamente com sua filha Mariana Eva, da sua própria residência em Buenos Aires. Ela estava a poucos dias de dar à luz. Nesta mesma ocasião, José desapareceu em Martínez. Mariana acabou sendo devolvida à família paterna por pessoas que se identificaram como membros da Coordenação Federal. A história revela que Patricia foi transferida para o ESMA (Escola de Mecânica da Armada) dias antes do nascimento de seu filho. Nesta instituição, conseguiu informar que tanto ela quanto sua filha haviam sido sequestradas por membros da Força Aérea e mantidas em um local na região oeste da Grande Buenos Aires, que anos depois foi reconhecido como o Centro Regional de Inteligência de Buenos Aires (RIBA). Durante seu cativeiro, ela deu à luz um menino, Rodolfo Fernando, com assistência do obstetra Jorge Luis Magnacco”.

As Raízes de uma Luta

Nascida em 15 de agosto de 1919 na Vila Moisés, na Província de Santa Fé, Rosa era filha de colonos judeus. Desde a juventude, ela teve uma consciência aguçada sobre a importância da memória, uma característica que a acompanhou por toda a vida. Em uma declaração que ressoa até hoje, ela recordou: “Todas as noites, após o jantar, eu conversava com meus pais à luz de um lampião de querosene. Eles contavam a mim e às minhas irmãs as razões pelas quais tiveram que deixar a Europa e se estabelecer na Argentina, fugindo dos czaristas. Essas histórias deixaram uma marca profunda em mim”.

Rosa formou-se em obstetrícia pela Universidade Nacional do Litoral e, antes de se tornar uma figura proeminente nos direitos humanos, foi chefe da Maternidade-Escola de Obstetrícia de Rosário. Sua dedicação à saúde e ao bem-estar das mulheres sempre foi uma de suas paixões, e a experiência profissional eventualmente se entrelaçou com sua luta por justiça e reconhecimento das atrocidades cometidas durante a ditadura militar.

O legado de Rosa Roisinblit vai além de sua luta pessoal; ela representa a resiliência de um povo em busca de verdade e justiça. Sua voz sempre ecoará como um lembrete da importância da memória na construção de um futuro mais justo e humano.

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