bolsonaro apresenta uma falsa preocupação com a condição dos condenados que se encontram nas prisões após a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Essa narrativa, que sugere que essas pessoas estariam lá inocentemente, é promovida por vozes que não têm bons intentos e que querem que a sociedade acredite que milhares de pessoas invadiram a Praça dos Três Poderes apenas para aproveitar um fim de semana em Brasília. No entanto, essa versão dos fatos é enganosa. O que realmente aconteceu é que essas pessoas não estavam em Brasília para celebrar ou participar de algum evento festivo; ao contrário, elas profanaram instituições democráticas ao invadirem e saquearem os prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, revelando uma falta de respeito e responsabilidade cívica.
Durante essa confusão, os militares assistiram passivamente, sem tomar qualquer atitude, acreditando que aquelas multidões, acampadas em frente ao QG do Exército e clamando por um golpe, eram incapazes de agir efetivamente. Desde quando bolsonaro realmente se importa com o bem-estar dos outros, exceto pela sua própria família? Ele deixa cartas valiosas em seu jogo político caírem ao chão sem se importar em salvá-las, exceto aquelas que decide descartar.
Um exemplo claro disso foi Gustavo Bebianno, um advogado que abandonou sua carreira em 2018 para apoiar bolsonaro em sua campanha eleitoral. A lealdade de Bebianno sempre esteve clara, mas ele se tornou a primeira peça descartável do tabuleiro de bolsonaro. Isso ocorreu de maneira banal, pois carlos, conhecido como Zero Dois, que era próximo a bolsonaro, ficou incomodado pela relação de Bebianno com o presidente e o convenceu a demiti-lo da Secretaria-Geral da Presidência. O resultado dessa decisão trágica foi devastador: Bebianno, emocionalmente abalado pela traição, infartou um ano depois, levando consigo segredos que poderiam ter abalado um governo que já estava se desmoronando sob o peso de suas próprias falhas.
Não se pode atribuir a vitória de lula a uma força superior; foi, na verdade, uma derrota de bolsonaro. O poder, como dizia Golbery do Couto e Silva, um dos artífices do golpe militar de 1964, não se entrega, mas se conquista. E, ironicamente, bolsonaro foi quem entregou. Outro figurante que saiu das graças do ex-presidente foi o general carlos Alberto Santos Cruz, amigo de longa data, que ocupava a posição de ministro da Secretaria do Governo. Santos Cruz era uma das poucas pessoas que se dirigia a bolsonaro pelo primeiro nome. Ele se tornou mais uma vítima do jogo intrincado de poder disputado por carlos, e sua demissão marca uma das primeiras baixas de oficiais da reserva no governo. O general, que depois se tornaria um adversário do ex-presidente, também sofreu problemas de saúde relacionados a essa pressão, infartando alguns anos depois.
Recentemente, bolsonaro tem defendido a anistia para os presos de 8 de janeiro, numa tentativa de se beneficiar dessa situação. Se não houve crime instituído, ou caso os supostos criminosos sejam perdoados, qual a razão para que ele seja julgado por ter conspirado contra a democracia? Essa retórica se assemelha à de Donald trump, que até hoje se recusa a aceitar sua derrota para Joe Biden nas eleições de quatro anos atrás, assim como ele se nega a reconhecer seu incentivo à invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Essa negação persistente da realidade, que também se reflete em sua recusa em aceitar a derrota no recente debate presidencial diante de kamala harris, faz de trump e bolsonaro companheiros de barco em uma jornada de negação histórica. A diferença crucial é que trump parece ter uma margem de manobra, enquanto para bolsonaro, a realidade à frente é bem mais sombria: a possibilidade de passar um tempo atrás das grades, ao lado daqueles que atenderam ao seu convite para uma festa mal organizada e repleta de consequências graves.