A Operação Sem desconto, realizada pela Polícia Federal (PF) no dia 23 de abril, revelou descobertas significativas, incluindo cadernos pertencentes a Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do inss”. Esses documentos contêm anotações que levantam suspeitas sobre possíveis pagamentos e atividades financeiras irregulares, o que levou a uma investigação aprofundada. Antunes é associado aos esquemas de descontos indevidos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (inss), sendo considerado um dos principais operadores desse complexo esquema.
Dentre os registros encontrados nos cadernos, a PF identificou menções como “Stefa 5%” e “Virgílio 5%”, que se acreditam referir a supostas propinas pagas a Alessandro Stefanutto, ex-presidente do inss, e ao ex-procurador do órgão, Virgílio Filho. Tais informações foram inicialmente divulgadas pelo jornal O Globo e confirmadas por outras fontes de informação. O escândalo envolvendo o inss foi investigado em detalhes pelo portal Metrópoles, que, desde dezembro de 2023, publicou uma série de reportagens revelando como as entidades envolvidas estavam arrecadando, por meio de descontos nas mensalidades de aposentados, a expressiva quantia de R$ 2 bilhões em um único ano, mesmo enfrentando diversas acusações relacionadas à fraude nas filiações.
As reportagens do Metrópoles foram fundamentais para a abertura do inquérito pela PF e para impulsionar investigações conduzidas pela Controladoria-Geral da união (CGU). Em sua representação, a PF mencionou 38 matérias do portal que fundamentaram a Operação Sem desconto, que resultou na destituição do presidente do inss, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi. Os cadernos encontrados, que incluem registros de reuniões e outras transações financeiras, estão sendo minuciosamente analisados pela PF e pela CGU, a fim de elucidar a profundidade do esquema.
Com o avanço das investigações, tanto Stefanutto quanto Virgílio foram afastados de seus cargos na alta administração do inss. De acordo com informações da coluna, o “careca do inss” é agora visto como um dos principais responsáveis por um esquema que teria desviado cerca de R$ 6,3 bilhões através de descontos irregulares impostos a aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. Antonio Camilo Antunes teria conseguido obter dados cadastrais de beneficiários do inss, que foram posteriormente repassados a entidades que fraudavam as filiações para aplicar cobranças irregulares.
A PF também sugere que Antunes é proprietário de uma “miríade de empresas”, muitas delas conectadas ao que se chama de “farra do inss”, e que ele teria coordenado pagamentos suspeitos a empresas e parentes de ex-diretores e procuradores afastados do inss. Recentemente, a coluna noticiou que ele teria sido mencionado em transações associadas a Virgílio Filho. Segundo a PF, o procurador teria recebido cerca de R$ 11,9 milhões de indivíduos sendo investigados, dos quais R$ 7,5 milhões teriam origem em empresas ligadas a Antonio Camilo.
Embora existam evidências que ligam Stefanutto a outros membros do inss através de transações suspeitas, ele não havia sido previamente vinculado a relatórios ou operações envolvendo esses operadores e entidades. Após a deflagração da Operação Sem desconto, Stefanutto foi judicialmente afastado e demitido do cargo pelo governo Lula.
Em nota, a defesa de Alessandro Stefanutto refutou as alegações, afirmando que ele não mantém qualquer tipo de relação pessoal com Antonio Carlos Camilo Antunes e que os raros encontros entre ambos ocorreram exclusivamente em eventos institucionais. A defesa acrescentou que não existem vínculos de natureza privada entre Stefanutto e Antunes. O texto ressalta que a anotação que teria sido encontrada nos cadernos atribuídos a Antunes não possui conexão comprovada com ações ou decisões de Stefanutto durante sua gestão. A defesa caracteriza as anotações como uma “citação apócrifa”, questionando tanto a autoria quanto os contextos e o valor probatório das informações. Além disso, afirmam que as investigações não revelaram movimentações financeiras irregulares ou benefícios indevidos recebidos por parte de Stefanutto.
O ex-presidente do inss reafirmou sua inocência, dizendo que jamais recebeu qualquer valor ilícito e que todas as suas decisões enquanto ocupava a posição de líder da instituição foram voltadas para corrigir distorções históricas e intensificar os controles sobre os descontos associativos. Ele finaliza sua defesa com a convicção de que as ações realizadas durante sua gestão foram corretas e em prol da transparência e eficiência do inss.