Demandas por Segurança na Aviação
A família de João Augusto Hjertquist Tremeschin, copiloto que perdeu a vida em uma queda de helicóptero em agosto de 2022, está fazendo um apelo à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para que sejam implementadas regras que regulem e fiscalizem o uso de drogas e medicamentos por pilotos em operações privadas. O trágico acidente ocorreu quando João e o piloto eram encarregados de buscar o empresário Guilherme Benchimol, fundador da XP.
A solicitação da família surge após a divulgação de um relatório que revelou que o piloto do voo, que acompanhava João Augusto, havia utilizado cocaína e medicamentos antes do acidente, que teve como cenário o Pico do Jaraguá, na zona norte de São Paulo. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) identificou que fatores como condições meteorológicas desfavoráveis, planejamento inadequado e decisões erradas por parte da pilotagem contribuíram para a queda do helicóptero.
O relatório, que foi tornado público recentemente, também destacou o uso de substâncias ilícitas pelo piloto. Atualmente, não existe legislação que obrigue empresas de aviação particular a realizarem exames toxicológicos em seus pilotos, ao contrário do que acontece na aviação comercial, onde os profissionais são submetidos ao Programa de Prevenção do Risco Associado ao Uso Indevido de Psicoativas na Aviação Civil (PPSP).
Em entrevista ao Metrópoles, Tânia Veiga Hjertquist, mãe do copiloto, expressou o desejo da família por um controle mais rigoroso da saúde mental e do uso de substâncias por parte dos pilotos. “Queremos assegurar que a memória do Guto [apelido carinhoso de José Augusto] não se perca. Ele sempre foi muito comprometido com a segurança. Nossa esperança é que esta situação ajude a salvar vidas”, afirmou Tânia.
Além disso, Tânia enfatizou a importância de ter medidas que impeçam a repetição de tragédias semelhantes. “É crucial que nenhum proprietário de aeronave possa alegar que não fiscalizou seus pilotos por falta de obrigação legal. Todos os profissionais da aviação precisam ter suporte psicológico para exercer suas funções com segurança, sem pressão, já que todos nós estamos em risco”, acrescentou.
A saúde mental dos Pilotos em Questão
A preocupação com a saúde mental é relevante, pois o relatório apontou que o piloto utilizou um medicamento destinado ao tratamento de depressão, substância que é proibida para quem exerce atividades aeronáuticas, no dia do acidente. Edison Mendes, que pilotava a aeronave, havia se afastado do trabalho no ano anterior ao acidente para tratar de depressão, mas retorna ao serviço em fevereiro de 2022, aparentemente recuperado.
Com mais de uma década de experiência como piloto e todas as licenças exigidas, o documento sobre o acidente sugere que o uso de drogas e medicamentos pode ter comprometido a concentração e o desempenho de Edison durante o voo, o que contribuiu para a tragédia. Ele também não sobreviveu ao acidente.
A família de José Augusto concorda com as conclusões do Cenipa, acreditando que as substâncias consumidas afetaram negativamente a capacidade de concentração e decisão do piloto. No entanto, eles esclarecem que não responsabilizam Edison pelo que ocorreu. “Ele também era um pai de família e estava enfrentando problemas de saúde mental, assim como o Guto”, declarou Tânia.
A mãe do copiloto criticou a ausência de menção à saúde mental no relatório do Cenipa. Esperavam que o órgão recomendasse medidas que incluíssem a fiscalização do uso de substâncias e acompanhamento psicológico dos pilotos. “Qual é o verdadeiro propósito de uma entidade voltada para a prevenção se não se discute nada a respeito? Quantas vidas devem ser perdidas para que mudanças realmente aconteçam?”, questionou Tânia.
A família também direcionou críticas à empresa proprietária do helicóptero, a Majam, por permitir que Edison voltasse ao trabalho sem exigir um atestado médico que comprovasse sua aptidão. Eles demandam a responsabilização da empresa pelo acidente.
No passado, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) havia arquivado o inquérito relacionado à queda do helicóptero, considerando Edison como o responsável pela tragédia, baseando-se na defesa da Majam, que alegou não ter obrigação legal de realizar exames toxicológicos e que tanto funcionários quanto proprietários confiavam no piloto, sem saber que ele havia usado substâncias ilícitas. O helicóptero possuía a documentação necessária para realizar voos.
Recentemente, o advogado da família, Samy Gerson, solicitou a reabertura do inquérito, afirmando que a empresa estava ciente da condição de saúde do piloto e deveria ter exigido um laudo médico antes de sua volta ao trabalho. Contudo, o Ministério Público decidiu manter o arquivamento do caso, alegando que não havia novos elementos para investigação.

