são paulo – A lavoura de cana-de-açúcar na região centro-sul do brasil enfrenta desafios significativos devido à seca severa e, mais recentemente, aos incêndios florestais. Segundo o boletim do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) divulgado nesta quarta-feira, a produtividade do setor sofreu uma queda alarmante de 7,4%, em comparação com os números da safra anterior. Para a safra 2024/25, que compreende o período de abril a agosto, a produtividade média registrada foi de 86,4 toneladas de cana por hectare, contrastando com as 93,3 toneladas por hectare obtidas na mesma época do ano passado, quando houve uma colheita histórica.
O cenário climático adverso tem impactado substancialmente a produção. Até agosto de 2024, o déficit hídrico na região ultrapassou os 1.000 mm, comprometendo severamente a saúde dos canaviais. O CTC ressalta que esta situação climática desfavorável tem contribuído para uma queda de 13,7% na produtividade média da cana em agosto, que alcançou apenas 78,7 toneladas por hectare.
Os incêndios, que atingiram cerca de 5% da área de cultivo, também agravaram os danos. Essa informação foi corroborada pelo levantamento da equipe CTC Geo, que utilizou imagens de satélite da segunda quinzena de agosto, revelando que aproximadamente 400 mil hectares de cana na região centro-sul foram afetados pelas chamas, afetando especialmente as áreas de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e São Carlos, no interior de são paulo. A Companhia Nacional de Abastecimento (conab) estima que a área cultivada com cana na região soma 7,66 milhões de hectares.
Os prejuízos causados pelos incêndios ainda estão sendo avaliados. Muitas áreas que já haviam sido colhidas necessitarão de novos investimentos para manutenção e cuidados, ou até mesmo de roçagem para recomplexidade dos canaviais. O cenário para as áreas imaturas ou que se aproximam do ponto de colheita se torna crítico, pois estão sendo colhidas com urgência para minimizar o impacto negativo tanto na produção quanto na qualidade da matéria-prima.
No estado de são paulo, que é o principal produtor de cana-de-açúcar do brasil, os incêndios devastaram pelo menos 231,8 mil hectares de canaviais, conforme um levantamento parcial realizado pela União da Indústria de cana-de-Açúcar e Bioenergia (unica). Dados recentes da Organização de Associações de Produtores de cana do brasil (Orplana) indicam que os prejuízos totais aos produtores alcançam a cifra de 1,2 bilhão de reais.
A Tereos, uma das principais produtoras de açúcar do país, reportou que cerca de 10% de suas áreas plantadas, totalizando 30 mil hectares, foram afetadas pelas queimadas. O diretor-presidente da Tereos no brasil, Pierre Santoul, alertou que os efeitos das queimadas na próxima safra podem ser ainda mais profundos, dependendo de quanta cana atingida pelas chamas conseguirá se recuperar a tempo de ser processada. Ele destacou que a seca representa um fator crítico que poderá influenciar a produtividade no ciclo 2025/26.
Além da seca e dos incêndios, o CTC também identificou que um outro fator que afeta a produtividade é o maior estágio médio de corte da cana. Este fenômeno indica que uma proporção significativa dos canaviais está envelhecida, o que resulta em menores índices de produtividade. Embora a qualidade da matéria-prima, em termos de Açúcar Total Recuperável (ATR), tenha se mantido estável em relação à safra de 2023/24, o CTC observou uma diminuição de dois pontos percentuais na pureza do caldo da cana, consequência da maior concentração de açúcares redutores, que é reflexo do déficit hídrico enfrentado pela região.
Esses desafios climáticos e produtivos reforçam a importância de estratégias de manejo que visem não apenas a recuperação da área afetada, mas também a sustentabilidade e a resiliência do setor canavieiro frente a eventos climáticos extremos. O futuro da cana-de-açúcar no brasil dependerá da adaptação a essas variáveis e da implementação de práticas agrícolas inovadoras que assegurem a continuidade da produção em face das adversidades.