Nos últimos anos, o cultivo de sorgo no Brasil passou por uma transformação significativa, passando de um “vilão” nas lavouras para uma opção cada vez mais valorizada pelos produtores. Anteriormente, acreditava-se que o sorgo competia de forma negativa com a soja, pois se pensava que ele “roubava” nutrientes do solo, prejudicando a cultura subsequente. Contudo, com um maior entendimento sobre suas propriedades e a introdução de técnicas agronômicas mais eficazes, o sorgo ganhou destaque como uma alternativa sustentável e promissora.
O sorgo, que muitas vezes era cultivado em áreas marginais da propriedade com baixa adubação, é, na verdade, uma cultura produtiva que, ao longo do tempo, mostrou um potencial considerável. Dados recentes da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) revelam que a produção nacional de sorgo dobrou nos últimos três ou quatro anos, alcançando quase 5 milhões de toneladas. Esse aumento posicionou o Brasil como o terceiro maior produtor de sorgo do mundo, destacando a importância dessa cultura nas economias agrícola e alimentar do país.
De acordo com especialistas, o cultivo de sorgo tem um futuro promissor. As previsões para a safra de 2025 indicam uma expansão significativa da área plantada, podendo variar entre 1,8 milhão a 2 milhões de hectares, com uma colheita estimada entre 5,5 e 6 milhões de toneladas, superando a última marca de 4,5 milhões de toneladas. Essa tendência é respaldada não apenas pelo aumento da área cultivada, mas também pela adaptação dos produtores a um ambiente agrícola em constante mudança.
Um dos fatores que impulsionam o crescimento do sorgo é sua resistência a condições climáticas adversas, como períodos de seca e estresse hídrico. Em um cenário de mudanças climáticas e desafios como a irregularidade das chuvas, o sorgo se destaca por sua capacidade de sobrevivência em condições que inviabilizariam outras culturas, tornando-se uma opção viável para os produtores que buscam uma rotação eficaz entre soja e milho. Essa rotação não apenas diversifica a produção, mas também contribui para a saúde do solo, permitindo que a soja subsequente se beneficie da palhada remanescente do sorgo e reduzindo a incidência de pragas como nematoides.
Outro aspecto relevante para a expansão do cultivo de sorgo é sua utilização crescente na alimentação animal e na produção de etanol. As fábricas de ração e as usinas de etanol têm exigido cada vez mais esse grão, com muitas delas já desenvolvendo projetos para aumentar a produção a partir do sorgo. Um exemplo é a instalação de novas usinas de etanol no Maranhão, que já começaram a receber sorgo, demonstrando um compromisso da indústria em tornar essa cultura parte vital de suas operações.
Estratégias de comercialização também estão mudando. Antigamente, os produtores enfrentavam desafios para vender sua produção, mas agora, com o aumento da demanda por sorgo na alimentação animal e para a produção de biocombustíveis, as perspectivas de mercado têm se tornado mais promissoras. Além disso, há esforços em andamento para explorar as opções de exportação, especialmente com o potencial mercado chinês, que representa uma oportunidade significativa para os produtores brasileiros.
A abertura do mercado chinês para o sorgo brasileiro é um aspecto que pode revolucionar a produção e comércio do grão no país. O mercado chinês, que consome aproximadamente 10 milhões de toneladas de sorgo anualmente, sendo 7 milhões importadas, representa uma oportunidade valiosa. Existe um movimento ativo por parte das associações de produtores para formalizar acordos sanitários que facilitem o acesso a esse mercado, e a expectativa é que esses esforços ganhem força nos próximos meses.
A indústria de etanol também está cada vez mais interessada em incorporar o sorgo em suas operações. Com usinas focadas especificamente na produção de etanol a partir do sorgo surgindo em diferentes regiões do Brasil, como na bahia, o cultivo deverá se expandir consideravelmente. Estima-se que a implementação dessas usinas pode resultar em um aumento significativo da área plantada, provavelmente até 200 mil hectares somente na região mencionada.
Em resumo, o cultivo de sorgo no Brasil está em ascensão, com cada vez mais produtores reconhecendo o seu valor estratégico. De uma cultura antes subestimada a uma protagonista na rotação das lavouras, o sorgo se apresenta como uma solução viável para enfrentar os desafios atuais da agricultura. Os próximos anos prometem ser significativos para a produção de sorgo, tanto no mercado interno quanto nas exportações, consolidando a posição do Brasil como um importante jogador no cenário global da agricultura.