O mercado financeiro brasileiro está atento às expectativas de um possível aumento na taxa selic, que pode ser anunciado pelo banco central (BC) na próxima quarta-feira, dia 18. Essa perspectiva de um novo ciclo de elevações de juros se deve, principalmente, às inquietações relacionadas à desancoragem das expectativas de inflação. A avaliação do ambiente econômico sugere que a autoridade monetária está considerando essa elevação como uma medida necessária para controlar a inflação e assegurar a estabilidade financeira.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, salienta que o Comitê de Política Monetária (Copom) expressa indícios de desconforto em relação à perda de controle das expectativas inflacionárias e ao aumento das projeções de inflação. Ele também menciona a volatilidade da taxa de câmbio e as dificuldades enfrentadas na busca pela convergência da inflação em direção à meta estipulada, considerando o contexto de baixa ociosidade na economia. Esses fatores estão gerando um sinal claro no horizonte econômico: é provável que o BC opte por aumentar a taxa de juros.
Com as recentes declarações dos dirigentes do banco central, o sentimento do mercado indica que um aperto monetário pode realmente se concretizar. Os investidores acreditam que, se a instituição não atender às expectativas do mercado, poderá prejudicar a sua credibilidade, um ativo valioso na condução da política monetária. A visão predominante é que, para preservar essa confiança, a manutenção dos juros em níveis estáveis pode ser uma abordagem mais sensata do que uma elevação temporária seguida por uma possível redução.
No entanto, o cenário não é simples. O placar dividido do Copom em sua última reunião, assim como as incertezas em torno da autonomia do BC, especialmente com a mudança de liderança que ocorrerá no início de 2025, suscita questões sobre a direção futura da política monetária. Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do BC, adotou um posicionamento forte em suas comunicações, visando consolidar sua credibilidade e, consequentemente, levando o mercado a precificar uma possível alta da selic já em setembro.
Além da desancoragem das expectativas inflacionárias, outras questões emergem no debate sobre o aumento da taxa de juros. Antonio Corrêa de Lacerda, professor de economia da PUC-SP e ex-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), destaca a recente revisão das metas inflacionárias e os problemas fiscais como fatores que contribuem para o cenário atual. Ele observa que o uso inadequado do regime de metas de inflação e a indexação da economia são elementos que pressionam para a elevação dos juros no país.
Lacerda também adverte que um aumento nesse momento pode ser inconveniente, apontando que há uma interpretação errônea de que a economia está se expandindo além de sua capacidade, o que poderia justificar pressões inflacionárias. Na realidade, segundo ele, a economia se encontra em um processo de recuperação, e o crescimento projetado de 3% para o próximo ano é acompanhado de preocupações relacionadas a investimentos necessários.
Em um panorama mais amplo, os impactos de um aumento da taxa de juros são profundos. Além das questões de credibilidade para o BC, fenômenos como a desvalorização do real, a inflação beirando o limite superior das metas e os altos níveis de gastos públicos são considerados motivadores para a expectativa de um aumento na selic. Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, enfatiza que a confiança na política monetária é um dos efeitos imediatos e mais importantes resultantes desse movimento.
Entretanto, é crucial lembrar que, embora a elevação dos juros tenha como objetivo desacelerar a atividade econômica para conter a inflação, esse aperto monetário pode, por sua vez, agravar a situação econômica do país. Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, explica que o aumento dos juros serve para esfriar a economia, e isso pode levar a um encarecimento do crédito, o que eleva o risco de inadimplência em todo o brasil. As instituições financeiras, em resposta, tendem a adotar uma postura mais conservadora em relação a novas concessões de crédito, o que pode resultar em atrasos significativos nos investimentos, uma redução na contratação de novos funcionários e um crescimento mais lento nos salários.
Zara projeta uma desaceleração do crescimento econômico no próximo ano como consequência direta dessas decisões de política monetária, enfatizando que isso não será uma recessão, mas uma desaceleração controlada. Por fim, a análise de Goldenstein ressalta que a combinação de juros já elevados e uma possível alta adicional pode resultar em um arrefecimento significativo no consumo e nos investimentos, gerando um impacto fiscal considerável devido ao alto nível dos juros reais. Portanto, o desafio permanece: equilibrar o controle da inflação com o crescimento econômico sustentável.