Desafios e Decisões no Cenário Político Japonês
A recente eleição no Japão resultou na perda da maioria da coalizão governamental no Senado, intensificando as pressões sobre o primeiro-ministro Shigeru Ishiba, que assumiu o cargo há menos de um ano. Agora, ele enfrenta a difícil realidade de estar sem maioria nas duas casas do Congresso japonês.
No início do dia 20 de julho, os eleitores, insatisfeitos com o aumento dos preços e as ameaças de tarifas dos EUA, compareceram às urnas para escolher a metade da composição da Câmara dos Conselheiros, equivalente ao Senado. Durante a campanha, o descontentamento popular foi palpável, e pequenos partidos conseguiram explorar o crescente sentimento contra a presença de estrangeiros no país.
Ishiba já havia perdido a maioria na Câmara dos Deputados em outubro, o que tornou as eleições de julho cruciais para a sua coalizão, que é composta pelo Partido Liberal Democrata (PLD) e pelo partido budista Komeito. Para manter a maioria no Senado, a coligação precisava conquistar pelo menos 50 cadeiras, mas obteve apenas 47, resultando em uma perda de 19 assentos em comparação com a quantidade anterior às eleições.
Tradicionalmente, uma derrota desse tipo teria levado à renúncia do primeiro-ministro, mas Ishiba surpreendeu ao afirmar que não pretende deixar o cargo. “Continuamos a ser o partido com a maior representação. Apesar de um duro golpe e das muitas dificuldades, muitas pessoas nos apoiaram fortemente”, declarou em uma coletiva de imprensa. Ele justificou sua decisão de permanecer no poder devido à situação política global e às “condições adversas” que o Japão enfrenta.
O primeiro-ministro salientou temas críticos, como as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Japão, a inflação crescente e a possibilidade de desastres naturais, como terremotos, afetarem o país em um futuro próximo. Ishiba também descartou quaisquer mudanças significativas em seu governo ou a incorporação de partidos da oposição em sua coalizão.
A Ascensão da Ultradireita no País
Nas eleições, o Partido Democrático Constitucional do Japão (CDP), de tendência liberal de esquerda, obteve o segundo lugar, com 22 cadeiras, enquanto o Partido Democrático Popular (PDP) ficou em terceiro, conquistando 17 lugares. Porém, a grande surpresa do pleito foi a ascensão do Sanseito, um partido nacionalista de extrema-direita que, sob o lema “Japão primeiro”, se tornou um dos grandes vencedores do domingo, conquistando 14 cadeiras e se tornando o terceiro maior partido da oposição.
Antes considerado um movimento marginal, o Sanseito ganhou notoriedade ao criticar a imigração, a presença de turistas estrangeiros e o ‘globalismo’, especialmente durante a pandemia de Covid-19, quando espalhou teorias da conspiração. O líder do partido, Sohei Kamiya, foi comparado ao ex-presidente americano Donald Trump e ao partido alemão AfD devido à sua postura antiestablishment e ao uso intensivo das redes sociais.
Desafios Econômicos e Descontentamento Popular
Desde a perda da maioria na Câmara, o governo de Ishiba tem enfrentado enormes dificuldades para reconquistar o apoio da população. A falta de realizações significativas e a inflação persistente, simbolizada pela chamada “crise do arroz”, têm sido motivos de preocupação. A guerra comercial em andamento e a ausência de avanços nas negociações bilaterais com os Estados Unidos também contribuem para a insatisfação geral.
O aumento no custo de vida, que não foi acompanhado por aumentos salariais adequados, esteve no centro da campanha eleitoral. Ishiba prometeu um auxílio de 20 mil ienes (aproximadamente R$ 756) a cada residente, na tentativa de amenizar os efeitos da crise. A oposição está pressionando o governo para que reduza ou suspenda temporariamente o imposto sobre o consumo, especialmente considerando que o preço do arroz duplicou nos últimos 12 meses, tornando-se uma das principais preocupações dos cidadãos japoneses.