Os dois tremas no nome de Björn Höcke simbolizam um vínculo inegável com a extrema direita, limitando suas possibilidades de progressão em uma direção menos radical, como por exemplo as trajetórias de Marine Le Pen e Giorgia Meloni. Höcke, membro proeminente do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), ainda não alcançou a notoriedade da líder política francesa ou da primeira-ministra italiana, ambas figuras que, embora tenham raízes na extrema direita, conseguiram se deslocar rumo a posturas mais moderadas. Essa transição é crucial para se tornarem figuras respeitáveis no cenário político nacional, especialmente em questões centrais da Europa, como a imigração. Ambas mantêm uma abordagem conservadora, mas apresentam uma linguagem que se alinha mais com o centro-direita contemporâneo.
Neste domingo, Höcke deve ter sua chance de brilhar com mais intensidade, uma vez que as pesquisas indicam que seu partido poderá alcançar impressionantes 30% dos votos nas eleições do estado da Turíngia, uma das dezesseis unidades federativas da Alemanha. O avanço da AfD não se limita à Turíngia; também é notável o crescimento da sigla nos estados de Brandenburgo e Saxônia, o que sinaliza uma mudança no panorama político.
Em contrapartida, a atual coalizão governamental demonstra um estado lamentável. Esta aliança, que combina elementos da centro-esquerda, centro-direita e grupos ecologistas, resulta em um governo com um primeiro-ministro, Olaf Scholz, que apenas consegue 28% de aprovação pública, enquanto 67% da população acredita que sua gestão é insatisfatória. As perspectivas de continuidade dessa administração não são animadoras, mostrando que a insatisfação popular está em alta.
O cenário para partidos tradicionais se torna cada vez mais sombrio, enquanto os que operam nos extremos do espectro político, como a AfD, encontram novos patamares de apoio. Tempo atrás, seria inconcebível imaginar que a AfD pudesse se destacar tanto na arena política. A Alemanha, um país que carrega uma história marcada por atrocidades decorrentes do nacionalismo extremado, sempre priorizou a desnazificação e a luta contra a ultradireita como pilares de sua identidade pós-guerra. Contudo, esse discurso outrora impensável começa a se normalizar.
Höcke, que pertence a uma facção interna de caráter mais extremista, tem sido um ativo propagador de uma linguagem que remete ao árido passado do país, contrastando com a abordagem de sua colega Alice Weidel, que possui um estilo mais moderado. Ele já declarou que a Alemanha é detentora de um “passado de mil anos” e um “futuro de mil anos”, uma afirmação que ecoa promessas made in Reich nazista. Além de criticar o euro e a política de asilo, Höcke questiona abertamente as contribuições dos imigrantes, referindo-se a questões de “comportamento reprodutivo”.
Por outro lado, ele produziu controvérsias em torno do Memorial do Holocausto, considerando-o um símbolo de vergonha para o país, e ressuscitou a frase “Alles für Deutschland” (Tudo pela Alemanha), uma expressão intimamente associada ao nazismo. Embora tenha sido multado em 17 mil euros pelo emprego de jargões considerados inaceitáveis, essa penalidade não teve impacto percebido em sua carreira ou discurso.
A confluência de fatores históricos e sociais, mesmo após oitenta anos de tentativas de reeducação e introspecção, contribui para o auge de Höcke. Um dos aspectos significativos é a percepção entre muitos cidadãos da antiga Alemanha Oriental de que permanecem como cidadãos de segunda classe no novo cenário unificado. Apesar dos esforços para integrar as regiões, sentimentos de ressentimento são palpáveis.
Adicionalmente, a política de portas abertas implementada por Angela Merkel em 2014, que possibilitou a entrada de mais de dois milhões de imigrantes, principalmente oriundos de nações do Norte da África, Oriente Médio e Ásia, criou um novo terreno de disputa. A complexidade das relações da Alemanha com a comunidade turca, fruto do recrutamento de trabalhadores na década de 1960, já apresentava desafios. Entretanto, a chegada de imigrantes sírios e afegãos trouxe à tona novas tensões sociais e culturais, incluindo formas de fundamentalismo que muitos cidadãos desconheciam, resultando em inquietações significativas.
Recentemente, um ataque em Solingen, perpetrado por um imigrante sírio de 26 anos ligado ao Estado Islâmico, chocou a nação. O ataque ocorreu em um evento irônico intitulado “Festival da Diversidade”, resultando na morte de três pessoas e deixando oito feridas. Höcke rapidamente capitalizou a tragédia, questionando se essa era a verdadeira “diversidade” que a Alemanha deveria enfrentar.
A resposta de Olaf Scholz foi tentar demonstrar proatividade, prometendo aumentar a deportação de estrangeiros rejeitados, como o responsável pelo ataque, e realizar um controle mais rigoroso sobre a venda de facas. No entanto, muitos consideram essa abordagem insuficiente, dado que o problema é profundamente enraizado e vai além do simples controle de armamentos.
Os cidadãos estão cada vez mais conscientes do contexto, e uma parcela crescente da população percebe que apenas figuras como Björn Höcke podem ser vistas como soluções para problemas que, segundo eles, foram gerados artificialmente. Esse cenário evidencia uma transformação complexa na paisagem política alemã, onde a radicalização e a busca por alternativas fora do alinhamento convencional se tornam cada vez mais comuns.