Policiais Envolvidos se Tornam Réus
Os policiais militares que participaram do trágico incidente que resultou na morte de Michael Stiven Ramirez Montes, um colombiano em surto psicótico, agora enfrentam acusações de homicídio qualificado. O episódio, que ocorreu em dezembro do ano passado, gerou grande repercussão e levantou questões sobre a ação da polícia. Para o promotor da 3ª Vara do Júri de São Paulo, a ação dos PMs foi caracterizada como um crime cometido ‘mediante recurso que dificultou a defesa da vítima’.
Michael foi alvo de 46 tiros enquanto estava em um apartamento na região da Cracolândia, onde, em um momento de desespero, atacava um cachorro da raça bull terrier. O ataque resultou na morte do cão, que também foi atingido por disparos. O colombiano foi alvejado 26 vezes.
Imagens das câmeras corporais dos policiais mostram uma tentativa inicial de diálogo, onde pediam a Michael que soltasse a faca: ‘Solta a faca, por favor. Acordo de homem. Não compensa’. Porém, essa tentativa foi rapidamente interrompida por uma sequência de disparos que durou mais de dez segundos, seguidos por mais seis tiros quando os policiais se aproximaram do homem, que agonizava no chão.
Acusações e Justificativas dos Policiais
Na denúncia apresentada pelo promotor, o crime foi tipificado conforme o quarto inciso do artigo 121 do Código Penal, que abrange homicídios praticados com traição, emboscada ou dissimulação. A expectativa é que os policiais Bruno Freitas Da Silva, Gabriel Henrique Correa Vilas Boas, Helder Soares Júnior e Mailson De Oliveira Macedo sejam levados a julgamento no Tribunal do Júri.
Após o incidente, as câmeras corporais também capturaram os policiais discutindo uma versão dos fatos. Eles alegaram que Michael teria atacado a equipe, uma afirmação que contradiz as evidências disponíveis. Os PMs ainda justificaram que tentaram utilizar uma arma de choque, mas que ela não funcionou, tornando os disparos de arma de fogo necessários.
Dados Alarmantes sobre Uso da Força pela PM
Em uma análise mais ampla, Michael Stiven Ramirez Montes foi um dos 85 casos de vítimas da Polícia Militar em São Paulo apenas em 2024, todas sem armamento. Esses dados foram revelados em uma reportagem especial do Metrópoles, que destacou que, nessas situações, a polícia disparou 459 vezes, resultando em uma média de cerca de seis tiros para cada suspeito que perdeu a vida.
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A maioria desses incidentes ocorre em áreas com altos índices de violência e em comunidades mais carentes, como foi o caso de Michael Stiven. Este evento levanta um contraste significativo com outra ocorrência que envolveu um surto psicótico em um contexto totalmente diferente.
Em 6 de dezembro de 2024, bem antes da morte de Michael, a PM foi chamada para uma situação em que um homem disparava de uma cobertura em Pinheiros, um bairro mais abastado. A abordagem foi diferente; os policiais, ao chegarem, foram recebidos com um tiro que foi direcionado à porta. Em resposta, o grupo especializado, conhecido como Gate, foi acionado e, com uma operação bem planejada, entrou no local e prendeu o suspeito sem disparar uma única bala, utilizando a ajuda de um cão policial. Dentro do apartamento, foram encontradas 152 armas de diferentes calibres.