Disputa Territorial na Região Amazônica

A recente escalada de tensões entre Colômbia e Peru na região amazônica ganhou destaque na última semana, com o envio de tropas por parte dos dois países vizinhos à tríplice fronteira com o Brasil. O foco da polêmica é a Ilha Santa Rosa, localizada no rio Amazonas, a qual é administrada pelo Peru e fica próxima dos municípios de Letícia, na Colômbia, e Tabatinga, no Brasil.

No dia 6 de agosto, um contingente do Exército peruano desembarcou na ilha para realizar o que foi descrito como uma “ação cívica”, que incluiu atendimento médico e a distribuição de suprimentos, além de içar bandeiras do país em diferentes pontos. Esta movimentação coincidiu com a recente designação da comunidade de Santa Rosa de Yavarí, situada na ilha, como capital do recém-criado distrito de Santa Rosa de Loreto.

O governo de Lima caracterizou a ação como um reforço das atividades sociais e administrativas na região. Em contrapartida, Bogotá interpretou o movimento como uma afirmação unilateral da soberania peruana sobre a área.

Reação Colombiana e Aumento da Tensão

Em resposta a essas iniciativas, a Colômbia decidiu aumentar sua presença militar em Letícia, acusando o Peru de promover uma “crescente militarização” na região. O presidente Gustavo Petro denunciou o que considera uma violação do espírito do Tratado do Rio de Janeiro de 1934, que estabelece os limites fluviais entre os dois países e prevê que qualquer alteração territorial deve ser discutida mutuamente.

Petro ressaltou que mudanças no leito do rio Amazonas diminuíram o acesso de Letícia, passando de cerca de 30% em 1993 para apenas 19,5% projetados para 2025. Sem um acordo, a cidade pode perder sua navegabilidade até 2030, o que intensifica a urgência das negociações.

A situação tornou-se ainda mais tensa quando o Peru protocolou um protesto formal contra um sobrevoo de um avião militar colombiano Super Tucano sobre a ilha, classificando o ato como “provocativo” e não autorizado. O governo colombiano, por sua vez, informou que o voo visava apenas a treinamento militar.

Posições Divergentes sobre a Ilha Santa Rosa

Durante as comemorações do Dia da Independência da Colômbia, que foram transferidas para Letícia, Petro declarou que a Colômbia “não reconhece a soberania do Peru sobre a chamada ilha de Santa Rosa”, desconsiderando as autoridades impostas por Lima na região. O presidente colombiano ainda anunciou que levará a questão a instâncias internacionais caso não haja aceitação de mediação por parte do Peru.

A Ilha Santa Rosa, que surgiu por sedimentação nos últimos anos, não aparece nos mapas oficiais utilizados na delimitação do Tratado de 1934, o que alimenta a controvérsia sobre sua soberania, conforme análise do jornal espanhol El País.

Implicações da Disputa e Resposta Brasileira

Para Bogotá, a situação exige uma abordagem de negociação bilateral, uma vez que as mudanças no leito do rio impactam diretamente a acessibilidade de Letícia ao Amazonas — uma preocupação que, segundo estudos ambientais, pode inviabilizar a navegabilidade da cidade até 2030.

Por outro lado, Lima defende que a ilha é uma extensão do território peruano, ligada à ilha de Chinería, reconhecida como parte do Peru desde 1929. A presidente Dina Boluarte reafirmou que “a soberania não está em disputa nem é tema pendente de tratar”, excluindo qualquer possibilidade de diálogo para resolver o conflito sobre a área.

Embora o Brasil não esteja diretamente envolvido na disputa, a movimentação militar ocorre a escassos metros de Tabatinga. Autoridades brasileiras têm monitorado a situação, mas não se manifestaram publicamente até o momento.

Histórico de Relações e Consequências Futuras

As relações entre Peru e Colômbia já estavam sob tensão desde 2022, quando a destituição do presidente peruano Pedro Castillo foi classificada por Petro como um “golpe de Estado”, resultando na retirada do embaixador colombiano em Lima. Desde então, a diplomacia entre as nações tem sido conduzida apenas por encarregados de negócios.

Esse impasse traz à tona lembranças de conflitos históricos, como a guerra de 1932-33, que também foi alimentada por disputas territoriais na Amazônia. Especialistas alertam que, apesar de o atual conflito não apresentar riscos imediatos de confronto armado, a soma de tensões políticas e questões ambientais pode prolongar a disputa e ameaçar a estabilidade na região.

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