Detalhes do Plano Criminoso
Uma conspiração orquestrada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para assassinar autoridades estaduais foi descoberta, a partir da apreensão de uma carta em 2019, que continha ordens detalhadas sobre alvos e seus executores.
Entre os alvos listados na missiva estava o então delegado-Geral de Polícia, Ruy Ferraz Fontes. Ele foi brutalmente assassinado a tiros em 15 de setembro, após uma fuga em alta velocidade na Praia Grande, litoral paulista, com um percurso de cerca de 2,5 km. O crime contou com a participação direta de pelo menos quatro homens armados.
Uma das linhas de investigação do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) está apurando se a facção criminosa estaria envolvida neste assassinato. A morte de Ferraz foi decretada pela cúpula do PCC desde 2000, demonstrando a longa trajetória de rivalidade entre a facção e o ex-delegado.
Execução Ordenada em 2019
A missão de assassinar Ruy Ferraz, determinada em 2019, incluía outros dois policiais civis e foi atribuída a cinco membros da facção conhecida como “irmãos”. Entre os responsáveis estava Marco Herbas Willian Camacho, conhecido como Marcola, cujas ações culminaram na prisão e transferência para presídios de segurança máxima, fruto de uma investigação liderada por Ferraz.
Documentos obtidos pelo Metrópoles revelam que a comunicação dos ataques foi delegada a Décio Gouveia Luiz, o Decinho, que havia cumprido pena junto com Marcola e foi preparado para ocupar um posto de comando nas ruas. Ele repassou as ordens a Nailton Vasconcelos Martins, o Irmão Molejo, que organizou uma reunião em 10 de março de 2019, no bairro Cidade Tiradentes, em São Paulo, para discutir as ordens e recrutar os executores.
A defesa de Marcola, em nota ao Metrópoles, nega qualquer ligação com a trama.
Os Nomes dos Executores
Entre os nomes destacados para executar Ruy Ferraz estava Fernando Henrique dos Santos, conhecido como Koringa. De acordo com denúncias do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Koringa era um dos “executores da célula” e responsável por aplicar punições severas a membros que desobedecessem as ordens do PCC.
Além de Koringa, estava Jhonatan Alexandre Rodrigues, o Barata, que também atuava como executor de punições dentro do “Bonde dos 14”, um grupo que determina as consequências para os membros que falham com as diretrizes da facção.
O grupo de “irmãos” designados para a execução de Ferraz incluía ainda Alan Donizeti dos Santos, conhecido como Terere, e Marcos Ferreira de Souza, o Corintiano. Terere tinha a função de monitorar pontos de venda de drogas e aplicar sanções, enquanto Corintiano cuidava das execuções após os “tribunais do crime”. Cleberson Paulo dos Santos, o Mimo, completou o quadro, assumindo a liderança nas operações.
Como a Conspiração Veio à Luz
A descoberta da operação criminosa se deu após a prisão em flagrante de Sandro de Cássio, o Gardenal, em 12 de junho de 2019. Durante a abordagem, a polícia apreendeu drogas, uma arma e uma carta manuscrita com ordens para atacar a Polícia Civil de São Paulo. Este documento foi crucial para levar adiante as investigações e desmantelar parte do plano.
A carta continha ordens explícitas, destacando Ferraz como o alvo principal, e especificava que o não cumprimento da missão resultaria em severas consequências para os responsáveis.
Conhecimento da Rotina da Vítima
Os assassinos de Ruy Ferraz demonstraram conhecer bem sua rotina. Registros de câmeras de segurança mostram o veículo dos criminosos, uma Hilux preta, aguardando antes do ataque. Ao avistarem o carro de Ferraz, abriram fogo, iniciando uma perseguição que resultou em sua colisão e posterior execução a céu aberto, diante de diversas testemunhas.
A ação foi feita de forma metódica, com os criminosos utilizando coletes balísticos e armamento pesado. Após o crime, o grupo abandonou o local, incinerando o carro utilizado, que foi encontrado posteriormente.
Impacto e Repercussões
Ruy Ferraz Fontes, que atuou por 40 anos na Polícia Civil e se destacou no combate ao PCC, havia sido jurado de morte por Marcola. Sua morte foi amplamente repercutida, com declarações de respeito e luto por parte de colegas e familiares. Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, diretora da Academia dos Delegados de Polícia do Brasil, destacou a bravura e a dedicação do ex-delegado em sua luta contra o crime organizado, ressaltando a importância de sua atuação na segurança pública.
Após a sua morte, Ferraz se tornou um símbolo de resistência contra o crime organizado no Brasil, e seu legado continua a ecoar nos esforços de combate às facções criminosas que operam no país.