Após mil e oitenta e nove dias desde a conclusão da edição encerrada dos Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020, que ocorreu sob a sombra da pandemia de covid-19, o evento resplandeceu novamente em Paris com uma abertura ao ar livre. O coração vibrante da cidade, entre a icônica avenida Champs-Élysées e a histórica Place de La Concorde — que testemunhou a Revolução Francesa — foi o cenário perfeito para esse renascimento. O que outrora foi palco de um passado conturbado agora se transformou em um espetáculo de alegria e celebração, abrindo as portas para mais de 4 mil atletas que participaram da paralimpíada mais inovadora desde sua primeira edição, realizada em Roma em 1960.
Diferentemente de edições anteriores, a cerimônia de abertura da Paralimpíada de Paris fez história ao ocorrer fora de um estádio, acentuando ainda mais a grandiosidade do evento. Para viabilizar essa proposta única, foram preparados 3 mil metros quadrados de palco e foram realizados cerca de 60 dias de ensaios. A estrutura projetada para acomodar mais de 50 mil espectadores e profissionais credenciados foi um reflexo do compromisso de Paris em realizar um evento que não apenas destaca o desempenho atlético, mas também promove uma reflexão sobre inclusão e diversidade entre as delegações de 168 países, envolvendo 5.100 participantes, entre atletas e equipe de apoio.
A temática escolhida para esta abertura, “Paradoxo: da Discórdia à Concórdia”, carregava uma mensagem poderosa. O intuito era não apenas homenagear os atletas, mas também provocar uma reflexão sobre a posição das pessoas com deficiência em uma sociedade que se declara inclusiva, mas que ainda enfrenta muitos preconceitos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) revelam que aproximadamente 15% da população mundial vive com algum tipo de deficiência, um fato que nos leva a questionar os verdadeiros valores da inclusão.
O renomado diretor artístico Thomas Jolly aproveitou suas apresentações para abordar essa dualidade, usando a arte como ferramenta para unir diferentes grupos. Com uma dança coreografada pelo sueco Alexander Ekman, foram retratados dois mundos que, por meio da arte e do esporte, transitam de um estado de discórdia para um de harmonia. A apresentação envolveu 140 bailarinos, dos quais 16 tinham deficiências, reforçando a ideia de que a inclusão é possível e desejável.
O presidente da França, Emmanuel Macron, ressaltou a importância do legado que os Jogos Paralímpicos deixarão. Segundo ele, os eventos ocorrerão em locais simbólicos, unindo tradição e modernidade, e prometeu que a cerimônia de abertura seria mais que um simples espetáculo — seria um marco. “Os Jogos Paralímpicos estão prestes a inaugurar um novo capítulo na inclusão e na superação de limites”, afirmou Macron. Ele também classificou o evento como um hino à audácia e à universalidade, valores que o povo francês defende.
A cerimônia ainda reservou um momento emocionante antes da acensão da pira olímpica, quando a tocha passou pelas mãos de 12 campeões paralímpicos, incluindo homens e mulheres que se destacaram em suas disciplinas. A tocha foi acesa por uma equipe diversificada composta por grandes ícones do esporte, simbolizando não apenas a celebração das conquistas, mas também a união do Movimento Paralímpico.
O Brasil, representado por uma delegação de 280 atletas, fez sua entrada como a 21ª na sequência do desfile. Os porta-bandeiras, Gabrielzinho, um dos medalhistas olímpicos mais destacados, e Beth Gomes, recordista mundial no lançamento de disco, levaram às ruas não apenas a bandeira brasileira, mas também a animação que caracteriza o povo. Com danças e expressões culturais, a delegação verde-amarela mostrou que, além de competir, o Brasil traz sua alegria e triunfo para os Jogos.
Com grandes expectativas, a missão do Brasil é posicionar-se entre os cinco primeiros no quadro de medalhas. Com um histórico de 72 medalhas e 22 ouros conquistados em Tóquio, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) acredita que pode superá-los. Entre os atletas que devem brilhar estão nadadores como Gabrielzinho e Carol Santiago, além do ciclista Carlos Alberto Soares e a atleta de taekwondo, Maria Eduarda Stumpf, que também poderão garantir pódios. É um momento promissor para o Brasil que, com essa paixão e dedicação, busca continuar sua trajetória de sucesso no cenário internacional esportivo. O início dos Jogos foi um claro convite à celebração, ao orgulho e ao compromisso firme com a inclusão.