**A Luta Diária pela Sobrevivência em Gaza: O Desespero de Hind Al-Nawajha**

Em meio à devastadora crise humanitária na Faixa de Gaza, Hind Al-Nawajha, uma palestina de 38 anos e mãe de quatro filhos, enfrenta desafios inimagináveis todos os dias. Assim como milhares de outros palestinos na região, ela realiza uma arriscada jornada de quilômetros em busca de alimentos para sua família, na esperança de retornar para casa viva. Acompanhada de sua irmã, Mazouza, Hind não hesita em se abaixar e se esconder atrás de entulhos à beira da estrada, enquanto os ecos de tiros ressoam perto delas. Essa realidade angustiante é comum para muitos que vivem em Gaza, onde o medo e a incerteza são constantes.

“Ou você volta trazendo comida para seus filhos e eles ficam felizes, ou você volta em uma mortalha, ou você volta sem nada e seus filhos choram,” desabafa Hind, que reside em Beit Lahiya, no norte da Faixa de Gaza. A dor e a frustração em sua voz refletem a luta incessante de uma mãe que se vê forçada a arriscar sua vida para alimentar sua família. “Esta é a vida que estamos vivendo. Estamos sendo massacrados e não conseguimos mais suportar isso.”

Nos últimos dias, a situação se agravou ainda mais, com relatos de médicos em Gaza indicando que dezenas de palestinos foram mortos por forças israelenses enquanto tentavam acessar alimentos de caminhões de ajuda humanitária. Somente na quinta-feira, pelo menos 51 pessoas foram mortas em ataques militares, incluindo 12 que se aproximaram de um local operado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada pelos Estados Unidos. Esses incidentes se tornaram quase diários, revelando a brutalidade e o desespero que permeiam a busca por comida.

As forças armadas israelenses justificaram suas ações, afirmando que dispararam tiros de advertência para afastar “suspeitos” que se aproximavam de suas posições na região de Netzarim. Segundo eles, essas medidas eram necessárias para proteger suas tropas, embora não tenham reconhecido feridos entre os civis. A GHF, por sua vez, criticou as autoridades de saúde de Gaza, acusando-as de divulgar informações imprecisas sobre a situação. A GHF também relatou que os palestinos enfrentam dificuldades para acessar seus centros de distribuição devido à insegurança nas áreas de conflito.

A violência não se limita apenas a confrontos diretos. Ataques aéreos israelenses resultaram na morte de 39 pessoas no norte da Faixa de Gaza, incluindo um ataque que atingiu uma tenda no campo de refugiados de Shati, matando pelo menos 19 pessoas, entre elas mulheres e crianças. Outro ataque em Jabalia causou a morte de 14 indivíduos e danificou várias residências na área. Em meio a esse cenário devastador, o exército israelense afirmou estar investigando relatos de vítimas civis, enquanto continua a implementar medidas de segurança em resposta ao que considera ameaças.

A ajuda humanitária, que é crucial para a sobrevivência da população de Gaza, está sendo canalizada principalmente pela GHF, que opera em áreas sob proteção das forças israelenses. No entanto, o Ministério da Saúde de Gaza reporta que centenas de palestinos foram mortos enquanto tentavam acessar esses locais desde o final de maio. As Nações Unidas criticam o sistema de distribuição da GHF, considerando-o inadequado e perigoso, enquanto israel defende essa abordagem como uma medida necessária para evitar que o Hamas desvie a ajuda.

A crise humanitária em Gaza se intensificou após o ataque do Hamas a israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.200 israelenses e na captura de 251 reféns. A resposta militar de israel resultou na morte de cerca de 55.600 palestinos, deslocando mais de 2 milhões de pessoas e gerando uma grave crise de fome. O Conselho Norueguês de Refugiados alertou que mais de 1 milhão de pessoas estão sem abrigo adequado, com equipamentos essenciais para abrigos sendo impedidos de entrar na região.

Após mais uma jornada infrutífera em busca de alimento, Hind retorna para sua barraca na Cidade de Gaza, exausta e desolada. Durante os últimos 20 dias, ela e sua irmã têm enfrentado a realidade de acampar à beira da estrada, tentando desesperadamente acessar os locais de distribuição de ajuda. No entanto, muitas vezes são barradas, enquanto homens brigam por sacos de farinha que saem dos caminhões da ONU. “Quando não há comida, as crianças começam a chorar e a ficar irritadas. É um ciclo de desespero que não parece ter fim,” desabafa ela, refletindo a realidade de muitos em Gaza que lutam pela sobrevivência em meio a uma crise humanitária sem precedentes.

Share.
Leave A Reply

Exit mobile version