Um paciente infectado com o vírus HIV após um transplante de fígado encontra-se internado no Centro de Tratamento Intensivo da Fiocruz, conforme reportado pela TV band no último domingo, dia 20. O homem, com mais de 70 anos, faz parte de um grupo de seis indivíduos afetados relacionados a um sério caso de contaminação originado no laboratório Patologia Clínica Dr. Saleme (PCS Saleme).
Conforme informações veiculadas pela band, a condição de saúde do idoso é considerada “delicada”. Ele submeteu-se a um transplante em maio deste ano e, lamentavelmente, contraiu o HIV após o procedimento. Além dele, os demais pacientes envolvidos no caso estão sob contínuo monitoramento médico. A equipe médica estabeleceu que, caso ocorra agravamento em algum dos quadros clínicos, os pacientes deverão ser transferidos para a Fiocruz, no rio de janeiro, onde receberão avaliação especializada.
A investigação em torno do laboratório PCS Saleme aponta que ele é o responsável pela infecção de seis pacientes transplantados com HIV, o que levanta sérias preocupações sobre a segurança e a eficácia dos processos de doação de órgãos no Brasil.
O PCS Saleme mantinha um contrato com a Prefeitura de Nova Iguaçu, cidade localizada no estado do rio de janeiro, desde o ano de 2020. De acordo com informações da GloboNews, esse contrato foi estabelecido por meio de dispensa de licitação e teve prorrogações sucessivas, totalizando um pagamento municipal de R$ 3,6 milhões.
O laboratório prestou serviço ao município até o dia 10 de setembro, quando foi interditado pela Secretaria Estadual de saúde, em resposta às denúncias que surgiram. A situação se agrava ao notarmos a ligação familiar entre um dos sócios do laboratório, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, e o ex-secretário de saúde do estado, Doutor Luizinho, atualmente deputado federal. A conexão se torna ainda mais evidente com a prisão de Walter Vieira, outro sócio do PCS, que é casado com a tia de Doutor Luizinho.
Doutor Luizinho, que atuou como secretário de saúde em Nova Iguaçu entre 2013 e 2015, e também no cargo de secretário estadual de saúde em períodos variados, possui uma influência política significativa na região. Sua base eleitoral se concentra em Nova Iguaçu, e ele esteve à frente da pasta de saúde em momentos críticos do estado, o que levanta questões sobre possíveis conflitos de interesse em sua gestão.
O contrato com a Prefeitura de Nova Iguaçu foi assinado em abril de 2020, com validade inicial de um ano e sem licitação, prevendo a realização de até 145 mil exames clínicos — incluindo exames sorológicos, bioquímicos e hematológicos — por um valor de R$ 800 mil. Este contrato foi prorrogado em abril de 2021 e de 2022, com um novo valor global que aumentou para R$ 1 milhão, e a quantidade de exames também foi elevada.
Embora o contrato com o PCS Saleme tenha sido rescindido em fevereiro deste ano, o laboratório continuou atuando na cidade por meio de contratos com duas Organizações Sociais (OS), que gerenciam unidades de saúde locais, incluindo UPAs. Entretanto, esses contratos também foram descontinuados antes que o escândalo envolvendo as infecções por HIV se tornasse amplamente conhecido.
Em resposta às perguntas sobre os contratos estabelecidos, a Prefeitura de Nova Iguaçu afirmou que a administração do contrato foi transferida para a OS Imaps e a OS Positiva, que cuidam da Rede de Atenção Básica e das UPAs, respectivamente. A prefeitura garantiu que esses contratos foram encerrados rapidamente após a notificação da interdição cautelar do laboratório pelos órgãos competentes.
O deputado Doutor Luizinho declarou à GloboNews que nunca participou do processo de escolha do laboratório e que não teve envolvimento direto com os contratos firmados entre o laboratório e a prefeitura. Ele categorizou a situação dos pacientes contaminados com HIV como “gravíssima” e exigiu uma investigação detalhada e rápida para esclarecer o ocorrido e prevenir que incidentes semelhantes voltem a acontecer no futuro.
Este incidente ressalta a importância da máxima rigorosidade nos processos de doação de órgãos e no controle sanitário dos laboratórios envolvidos em procedimentos médicos críticos, alertando para a necessidade de monitoramento contínuo da saúde pública.