A dinâmica do mercado de saúde no Brasil revela um cenário diversificado, onde setores como diagnóstico por imagem, laboratórios, diálise e oftalmologia já alcançaram um estágio avançado de maturidade e consolidação. Esses segmentos foram plenamente explorados por grandes empresas, resultando em um ambiente competitivo que limita as oportunidades para novos entrantes. A chamada “pulverização” do mercado, caracterizada por negócios isolados, desafia a formação de estratégias de consolidação de maior escala, especialmente em um contexto onde investimentos de private equity, venture capital e investidores estratégicos — tanto locais quanto internacionais — se tornam cada vez mais relevantes.
Entretanto, há um nicho que permanece relativamente intocado, apresentando uma infinidade de oportunidades para aqueles dispostos a inovar e se adaptar. O setor de cirurgia ambulatorial, também conhecido como cirurgia-dia, desponta como uma das áreas mais dinâmicas da saúde globalmente. Nos últimos anos, esse modelo de atendimento tem se destacado pela sua eficiência, redução de custos e qualidade na experiência do paciente. A movimentação crescente em direção à consolidação dos Centros Cirúrgicos Ambulatoriais (ASCs) em outras partes do mundo exemplifica o imenso potencial desse segmento, especialmente frente à necessidade urgente de modelos de saúde sustentáveis e econômicos, que atendam à crescente demanda por procedimentos cirúrgicos.
No panorama brasileiro, a consolidação do mercado de saúde tem mostrado uma realidade com poucos ativos identificados. O conceito de “greenfield”, que se refere a áreas em fase de desenvolvimento, com pouca ou nenhuma história de desempenho, é aplicável a grande parte deste setor. Contudo, estamos observando uma transição para o que se pode chamar de “grey field”, ou zona cinzenta, onde a maturidade começa a surgir, demonstrando histórico de performances que abrem espaço para um desenvolvimento significativo. Esse setor possui um potencial imenso, atraindo a atenção de investidores ansiosos por participar de um mercado em franca evolução.
A ascensão dos Centros Cirúrgicos Ambulatoriais é evidente, com o aumento significativo de empresas e procedimentos sendo realizados. Nos Estados Unidos, a United Surgical Partners International (USPI), uma das redes mais prestigiadas de ASCs, possui atualmente uma fatia considerável do mercado, evidenciando o efeito das tendências de consolidação que estão transformando a prestação de cuidados de saúde. O crescimento exponencial dessa rede, que já opera centenas de centros cirúrgicos e hospitais especializados, reflete a crescente aceitação do modelo de cirurgia ambulatorial, caracterizado por sua eficiência e redução de custos operacionais.
Além das vantagens operacionais, a cirurgia ambulatorial traz benefícios diretos para a experiência do paciente. Os Centros Cirúrgicos Ambulatoriais (CCAs), conhecidos como Unidades de Cirurgia Ambulatorial (UCAs) no Brasil, destacam-se não apenas por atenderem a um número reduzido de pacientes com patologias eletivas, mas também por oferecerem um ambiente controlado e seguro, que minimiza riscos de infecções. Essa abordagem proporciona uma jornada cirúrgica que resulta em menores períodos de recuperação e uma experiência de atendimento mais personalizada, promovendo uma percepção positiva por parte dos pacientes.
As consequências dessa transição para o Brasil são significativas. Com a pressão crescente sobre o sistema de saúde e a necessidade de melhorias na eficiência operacional, a adoção do modelo de cirurgia ambulatorial pode ser um passo fundamental para otimizar recursos e oferecer um atendimento mais adequado à população. Um futuro promissor é vislumbrado à medida que a cultura da saúde no Brasil evolui e se adapta, permitindo que a experiência obtida em outros países possa ser implementada de forma eficaz no cenário nacional.
O Brasil se depara com a necessidade de modernizar sua abordagem à saúde, e a experiência norte-americana pode servir como um norte para essa transformação. A implementação de CCAs poderia, não apenas facilitar o acesso a procedimentos cirúrgicos, mas também reduzir custos sem comprometer a qualidade do atendimento. O impulso a este modelo pode abrir novas avenidas para investimentos na saúde, contribuindo para um desenvolvimento sustentável e acessível a todos.
Com um olhar dinâmico sobre o futuro, a sociedade brasileira está pronta para abraçar a evolução no setor de saúde. O foco deve estar em adaptar modelos como o dos Centros Cirúrgicos Ambulatoriais às necessidades locais, garantindo que a população tenha acesso a cuidados de qualidade, enquanto se enfrenta o desafio de um sistema que demanda reformas para se manter eficiente e responsivo às demandas da sociedade contemporânea.