Em 2024, observamos novamente a predominância da direita sobre a esquerda, uma tendência que se repete desde 2018, passando por 2020 e 2022. Mesmo com o prestígio de figuras como Lula, que conseguiu a vitória por uma margem estreita em um contexto de ascensão conservadora e um Congresso dominado por governadores de linha conservadora, a esquerda não conseguiu capitalizar suas oportunidades. Essa situação reflete uma série de erros fundamentais que foram apontados já em 2019, mas que a esquerda se recusa a reconhecer e corrigir.
Um dos principais erros é a postura excessivamente arrogante, que leva a neutralizar a vigência de erros próprios. A esquerda tende a acreditar que suas derrotas eleitorais são fruto da manipulação e desinformação da direita, ignorando a necessidade de uma verdadeira conexão com a base eleitoral. Essa desconexão se agrava pela falta de propostas inovadoras e discursos que realmente ressoem com as expectativas dos cidadãos, resultando em um distanciamento cada vez maior da lógica e necessidades da população. Ao se ver como portadora de uma verdade única e científica, a esquerda falha em compreender que a democracia não se baseia apenas em argumentos racionais, mas na habilidade de seduzir e atrair eleitores por meio de uma comunicação mais acessível e envolvente.
Outro ponto crítico é a ausência de uma proposta verdadeiramente transformadora que ofereça esperança e alternativas concretas para construir uma sociedade mais justa e eficiente. A insistência da esquerda em apenas administrar a economia em sua forma atual e manter programas sociais estagnados ao longo de 25 anos faz com que muitos eleitores passem a confiar mais na promessa de eficiência e sinceridade da direita. Essa falta de distinção no campo das propostas econômicas e sociais levou a esquerda a se concentrar apenas em questões de moralidade e costumes, desconsiderando o fato de que esses temas avançam a um ritmo lente entre os eleitores. Essa estratégia de focar em nichos específicos resultou em um isolamento da esquerda em relação à maioria do eleitorado, subestimando o impacto da religiosidade e do papel da Igreja nas escolhas eleitorais.
Além disso, a postura humanista da esquerda tem se distanciado das aspirações imediatas e locais dos eleitores. Embora a defesa dos direitos dos povos indígenas e do equilíbrio ecológico seja crucial, a falta de uma abordagem que considere os interesses e necessidades práticas dos eleitores resulta em perdas nas urnas. Os desafios modernos exigem que a esquerda encontre um equilíbrio entre a necessidade de defender causas de longo prazo e a urgência de atender as demandas do presente, de modo a motivar os cidadãos a sacrificar algo em prol do bem comum.
A esquerda também não parece ter percebido a transição de uma Era de Abundância para uma Era de escassez, onde muitos dos direitos conquistados ao longo das últimas décadas não poderão ser universalizados para aqueles que permanecem à margem. Em vez de apresentar uma alternativa adequada a essas novas realidades, a esquerda é frequentemente vista como defensora dos direitos adquiridos do passado, priorizando compromissos com sindicatos em detrimento de uma conexão mais ampla com a população em geral. Essa separação do público em relação aos interesses da esquerda a torna um agente de resistência à mudança, defendendo privilégios que, em última análise, podem concentrar ainda mais a riqueza e a influência, em vez de promovê-las de forma equitativa.
Ademais, a perda da bandeira da ética no debate público tem custado à esquerda a confiança necessária para se posicionar como a alternativa moral aos problemas sociais que enfrenta. O seu associar a correntes corruptas, por outro lado, piora essa imagem, afastando ainda mais potenciais aliados e eleitores.
Por último, a esquerda falha em dominar as novas tecnologias e estratégias de comunicação que são essenciais para alcançar e mobilizar eleitores nos dias de hoje. A comunicação direta por meio de redes sociais, ofuscada pela proliferação de fake news e narrativas distorcidas, tem sido um campo de batalha onde a esquerda muitas vezes se vê em desvantagem. Apesar de também recorrer a “verdades dúbias” quando isso lhe convém, acaba desmerecendo perspectivas que divergem de sua visão, subestimando a capacidade do eleitor de discernir entre a realidade e as narrativas manipulativas.
Compreender e superar esses desafios é crucial para a esquerda se reposicionar de forma eficaz e relevante no cenário político atual, estabelecendo uma ligação mais forte e genuína com a população.