A escassez de chuvas, os incêndios florestais e as intensas ondas de calor estão causando sérios impactos na saúde da população, bem como na geração de energia e na produção agrícola. As previsões meteorológicas indicam que as chuvas continuarão abaixo da média nos próximos meses, agravando a situação já alarmante da seca no brasil. O mapa da seca atinge praticamente todas as áreas do país, mas a situação se torna especialmente crítica nos estados que abrigam a Floresta Amazônica, como Acre, partes do Amazonas e o norte de Mato Grosso. O semiárido do Nordeste também se prevê como uma das áreas mais afetadas nas próximas semanas, gerando preocupação entre especialistas e autoridades.
Apesar da experiência de anos de estudos sobre seca, muitos cientistas ainda se mostram confusos sobre as causas dessa fenomenologia no brasil. Pesquisadores buscam entender as possíveis conexões entre o aquecimento anormal das águas oceânicas, o desmatamento e a atual prolongada estiagem. “Atualmente, está difícil até se encontrar uma explicação científica clara para o que estamos observando. Algumas regiões já enfrentam mais de 12 meses de precipitações abaixo da média”, afirma um especialista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
As expectativas não são otimistas. A prova disso é que praticamente todas as regiões do brasil enfrentarão temperaturas superiores à média e pouca precipitação nos próximos meses. A exceção poderá ser a região Sul, que recentemente passou por enchentes severas. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta que essa área deverá experimentar um aumento nas chuvas.
Dentre os setores mais afetados, a agricultura é um dos que mais sofre com essa situação. Isso também tem repercussões diretas no abastecimento de água, na geração de energia e na navegação. A falta de água já levou várias cidades no interior de são paulo a adotar medidas de rodízio no fornecimento de água potável. Em minas gerais, a situação é semelhante, com muitos municípios também enfrentando restrições no abastecimento.
A escassez hídrica está subindo os custos da energia elétrica. As usinas hidrelétricas, que são a principal e mais econômica fonte de eletricidade no brasil, estão sentindo os efeitos da falta de água nos reservatórios, o que força o sistema a buscar alternativas mais onerosas. Como resultado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) implementou a bandeira vermelha na tarifa de energia, significando que os consumidores passarão a pagar R$ 7,87 a mais para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, a partir de setembro. Espera-se que essa situação leve a uma queda no consumo de eletricidade, o que pode ser um desafio, já que, historicamente, o uso de energia tende a aumentar durante períodos de calor intenso, em busca de refrigeração.
Com a possibilidade dos reservatórios atingirem níveis 50% inferiores à média histórica em setembro, o Sudeste e Centro-Oeste, que concentram 70% dos reservatórios utilizados na geração de energia, devem registrar uma queda de 49%, o menor nível já registrado em 94 anos. A realidade é preocupante: longos períodos sem chuvas acarretam maiores custos de energia, uma vez que as usinas termelétricas, que geram eletricidade de forma mais poluente e cara, precisam ser acionadas para atender à demanda.
O impacto na saúde pública também é alarmante, com o combo de seca, queimadas e altas temperaturas resultando em uma “tempestade perfeita” do ponto de vista sanitário. As doenças se tornam mais prevalentes, criando um ciclo vicioso de riscos à saúde. “Estamos vivendo uma situação extremamente preocupante em diversos aspectos. Este ano, a intensidade e a duração da seca são incomuns e não devem ser tratadas como normais. Há discussões para declarar estado de emergência em saúde pública em resposta à emergência climática”, destaca um especialista em saúde pública.
As consequências da seca e das altas temperaturas se manifestam de forma diversa dependendo da região do país. Na Amazônia, por exemplo, a diminuição dos rios provoca problemas sérios relacionados ao consumo de água, fazendo com que a população busque água imprópria, o que agrava as condições de saúde. Isso também intensifica a marginalização de comunidades que já enfrentam desafios devido às queimadas, potencializando doenças respiratórias, especialmente em pessoas com condições pré-existentes como diabetes e hipertensão.
Além disso, a seca impacta negativamente a agricultura familiar, com risco ampliado nas regiões do norte do Mato Grosso, Acre e Amazonas. Pequenos produtores que dependem do cultivo de feijão e milho não irrigados são os mais vulneráveis, pois a escassez de recursos hídricos compromete não apenas a produção, mas também as fontes de sustento dessas famílias. O último levantamento da safra 2023/2024 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já projeta uma queda significativa na produção total de grãos, o que reforça a necessidade urgente de a sociedade refletir sobre o que está sendo feito em relação ao uso responsável dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente.