Advogada No Centro da Polêmica do INSS

A advogada Cecília Rodrigues Mota, identificada como uma das operadoras por trás da “farra do INSS”, participou de uma reunião na Diretoria de Benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em setembro de 2024. A revelação, feita pelo Metrópoles, suscita questionamentos sobre os laços entre operações de benefícios e a atuação de entidades associativas. Na ocasião, Vanderlei Barbosa dos Santos, indicado para o cargo pelo governo Lula (PT) poucos meses antes, também estava presente e liderava a diretoria.

A visita de Cecília ao INSS foi registrada no dia 5 de setembro de 2024, às 10h46. O objetivo da reunião era discutir questões relacionadas a entidades de previdência, especialmente sobre a validação de descontos feitos em aposentadorias e pensões, o que está sob investigação na Operação Sem Desconto.

A informação sobre a reunião foi obtida através da Lei de Acesso à Informação (LAI), mostrando a transparência em um momento de intensa apuração de denúncias. Vanderlei Barbosa dos Santos foi afastado do cargo após a primeira fase da operação, que ocorreu no final de abril de 2024. Ele havia sido nomeado em julho do mesmo ano, para substituir André Fidélis, que foi demitido após a exposição do esquema irregular.

Reunião Híbrida com Diversos Participantes

Segundo os registros, este encontro começou às 11h e terminou às 13h30, seguindo um formato híbrido que permitiu a participação de diversos representantes. Além de Cecília e Vanderlei, outros funcionários da Diretoria de Benefícios, membros da Dataprev e representantes de entidades como a Contag, Cobap, CBPA, Conafer e Abrapps também estiveram presentes.

Cecília figura no registro como representante da Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN). O encontro teve como pauta a apresentação do sistema Portal de Desconto de Mensalidade Associativa (PDMA), que levantou diversas questões sobre sua operacionalização e a integração com sistemas internos.

Esquema de Descontos Irregulares em Análise

A investigação da Polícia Federal (PF) aponta que Cecília Rodrigues Mota se envolveu em um esquema de descontos indevidos, recebendo valores de associações e repassando a servidores do INSS. Documentos da PF revelam que pessoas físicas e jurídicas ligadas a Cecília movimentaram mais de R$ 14 milhões de entidades associativas e empresas intermediárias.

Entre as entidades citadas, estão a AAPEN e a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB), com as quais Cecília teve ligação significativa, inclusive como presidente em períodos coincidentes entre 2017 e 2020. A PF destaca que suas transações financeiras levantam suspeitas sobre a legitimidade das operações, evidenciando um potencial conluio nas práticas de pagamentos irregulares.

Movimentações Financeiras Suspeitas

Cecília é também proprietária da “Cecília Rodrigues Mota – Sociedade Individual de Advocacia”, que, segundo a PF, apresenta movimentações financeiras desproporcionais ao seu faturamento como microempresa. Recentes relatórios indicam transferências de grandes quantias a empresas associadas a indivíduos que ocupavam cargos influentes no INSS, como R$ 630 mil para a Xavier Fonseca Consultoria e R$ 520 mil para Eric Fidelis, filho de um ex-diretor do INSS.

Além disso, a Highway Comércio e Serviços de Informática, outra empresa de Cecília, recebeu R$ 1,7 milhão e enviou R$ 2,8 milhões, que, segundo a PF, tinham como destino final parte dos recursos a própria advogada e seu escritório. O levantamento aponta ainda para um “volume atípico” de viagens internacionais e nacionais realizadas por Cecília entre janeiro e novembro de 2024, totalizando 33 viagens para destinos como Dubai, Paris e Lisboa.

Defesa e Controvérsias

A defesa de Cecília Rodrigues Mota informou à coluna que se manifestará apenas em juízo, levantando questionamentos sobre a legalidade das alegações feitas pela PF e a possibilidade de defesa em um contexto de apuração tão complexo. A situação da advogada se insere em um cenário mais amplo de investigações em curso que visam desmantelar redes de corrupção e irregularidades no sistema previdenciário do país.

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