O Papel da ONU em um Mundo em Transformação
A resposta sobre a relevância da ONU é clara: seu objetivo é atender a todos. No entanto, explicar o que parece tão evidente é um desafio. A complexidade atual enfrentada pela Organização das Nações Unidas é um retrato vívido dessa dificuldade. O próprio nome da ONU é bastante descritivo, o que poderia isentar a necessidade de um texto mais extenso sobre sua função. Contudo, em uma associação composta por quase 200 países, sempre haverá um conjunto de nações que se encontram em desacordo.
Pense na ONU como um bairro com 200 casas distribuídas em cinco ruas. Agora, imagine que uma desavença afete cerca de 30 dessas famílias, levando-as a invadir e agredir os vizinhos em busca de recursos. Após um longo período de conflito, as cinco casas que se destacaram decidem criar um condomínio, convidando todos para restaurar a harmonia. Para isso, formaram comitês que tratam de diversos temas, desde segurança até saúde e educação, buscando evitar novos conflitos.
No topo dessa nova estrutura de gestão, as cinco famílias fundadoras detêm poderes especiais, podendo vetar qualquer proposta que não lhes agrade. Inicialmente, a dinâmica parece simples, mas, com o tempo, novos problemas e discordâncias emergem, fazendo com que a influência do condomínio sobre as 200 casas diminua. Surge a questão: devemos extinguir o condomínio ou reformulá-lo? Talvez uma solução seja compartilhar a gestão com mais residentes e incluir novos tópicos relevantes.
Dessa maneira, a ONU chegou à sua atual configuração. Com quase 200 países, a Segunda Guerra Mundial envolveu mais de 30 nações de todos os continentes, resultando em cerca de 60 milhões de vidas perdidas. Os cinco vencedores desse conflito – Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França e China – fundaram a ONU, destinada a promover um ambiente de paz e cooperação global. Entretanto, o cenário geopolítico se transformou, levando a divisões sobre o futuro da Organização e da própria humanidade.
Após o fim da Guerra Fria, o modelo de economia global, que havia sustentado a paz desde os anos 1950, começou a entrar em colapso. A ONU tinha um papel fundamental nesse contexto, funcionando como um dos elos de conexão entre países, juntamente com outras entidades multilaterais como a OMC, OCDE, G7 e G20. É importante ressaltar que a função da ONU vai muito além da mediação de conflitos armados, englobando questões cruciais que sustentam as relações internacionais e seu funcionamento interno. Assim, pode-se definir a atuação da ONU em três eixos principais: paz, desenvolvimento sustentável e meio ambiente. Em termos práticos, isso significa abordar problemas como guerras, fome e as consequências das mudanças climáticas.
Entretanto, os cinco membros fundadores, diante de uma nova ordem política e econômica mundial, parecem ter colocado a ONU em segundo plano, sem uma alternativa clara para promover o diálogo entre os países. Enquanto potências como EUA, Rússia e Israel desconsideram a importância da Organização, nações como Brasil e Índia lutam por uma ampliação da representação no Conselho, reivindicando mais voz para os países em desenvolvimento.
Como parte desse debate, o presidente Lula tem chamado a atenção de seus colegas sobre a necessidade urgente de reanimar os princípios fundadores da ONU, especialmente em tempos de rápidas mudanças climáticas e uma desglobalização caótica. É um momento crucial que demanda reflexão e ação.