Uma vibrante aula de alquimia de cores encheu o Salão de Exposição do Centro de Visitantes do Jardim Botânico neste domingo (15), dentro das comemorações da Semana do Cerrado. O evento, que encantou os participantes, apresentou uma oficina prática conduzida pela talentosa artista e pesquisadora Maibe Maroccolo, onde foram exploradas as maravilhas das plantas nativas do Cerrado na produção de corantes naturais. Este workshop demonstrou a versatilidade das diversas espécies vegetais, mostrando como elas podem se transformar em pigmentos fascinantes para técnicas de aquarela.
A oficina foi inspirada no recente lançamento do livro de Maibe, intitulado “A natureza das cores brasileiras”, que ocorreu na última quarta-feira (11). A obra, que contou com o apoio do Governo do Distrito Federal (GDF) via Fundo de Apoio à Cultura (fac-df), destaca a riqueza e diversidade de 100 espécies tintoriais do brasil, além de abordar a importância cultural e medicinal dessas plantas. O livro não só resgata saberes tradicionais, como também promove práticas sustentáveis que aproximam as pessoas da essência da natureza.
Segundo Maibe, muitas das plantas utilizadas na oficina são amplamente conhecidas pela população, incluindo cascas de romã, urucum, catuaba, jatobá e barbatimão, todas elas também valorizadas na medicina popular. “Essa oficina oferece uma nova visão sobre a natureza, que vai além do paisagismo e dos usos medicinais, ao revelar a beleza surpreendente das cores que podemos extrair das plantas”, afirmou a artista.
Ela ainda enfatizou a importância desse conhecimento ser transmitido às gerações futuras, especialmente em um momento em que a conexão com a natureza se torna cada vez mais necessária. “Desenvolver habilidades manuais é um passo importante. Por meio das plantas, vamos aprofundar nosso entendimento sobre a biodiversidade brasileira e suas inúmeras potencialidades”, acrescentou Maibe.
Allan Freire Barbosa da Silva, diretor do jardim botânico de brasília, também ressaltou a relevância do workshop, mencionando que ele contribui significativamente tanto para o aprendizado artístico quanto para a educação ambiental. “O Cerrado é uma região rica, com uma diversidade imensa que vai além do que já é amplamente conhecido. Essa oficina visa educar a população sobre nossa biodiversidade e as possibilidades criativas que podem ser exploradas a partir dela, trazendo uma interpretação artística do Cerrado”, disse.
A experiência prática permitiu que os participantes descobrissem como modificar as cores utilizando reagentes, extraindo até dez tonalidades diferentes da mesma planta. Por exemplo, a adição de sulfato de ferro em uma solução feita com casca de romã pode resultar em uma cor mais escura, enquanto a inclusão de bicarbonato de sódio abre as tonalidades, proporcionando uma paleta ampla de opções para os artistas.
Entre os participantes, estava a educadora Sarah Dorneles, de 32 anos, que se mostrou fascinada pelas nuances das cores naturais. Mãe de uma menina pequena que adora desenhar e colorir, Sarah expressou seu desejo de incorporar elementos naturais em suas atividades criativas em casa. “É uma pesquisa profunda conhecer tantas plantas e descobrir maneiras inovadoras de criar. Ver que posso replicar essa experiência e integrá-la ao meu próprio processo criativo é incrível. As cores são belíssimas, e a vontade de experimentar é contagiante, especialmente em um contexto de degradação ambiental que vivemos hoje”, compartilhou Sarah.
Tiago Ferreira, um designer de 37 anos, também participou da oficina junto com sua esposa e enteado. Apesar de trabalhar em um ambiente digital, ele expressou sua paixão por trabalhos manuais como um hobby familiar. Ao explorar a obtenção de pigmentos naturais, ele ressaltou como a oficina contribuiu para aumentar a conscientização sobre a preservação do Cerrado. “Este evento trouxe à tona temas como as queimadas no Cerrado, conectando essa problemática à valorização econômica das plantas nativas como fontes de tinta. O aprendizado não se limita à aquarela, mas se estende a uma discussão mais ampla sobre a sustentabilidade e a importância do Cerrado”, observou Tiago.
Esta oficina não apenas enriqueceu o conhecimento dos participantes sobre as cores e a biodiversidade do Cerrado, mas também promoveu um espaço de reflexão sobre as práticas sustentáveis, a cultura local e os saberes ancestrais que cercam as plantas nativas do brasil. A conexão criada entre arte, natureza e preservação é um passo fundamental para a valorização do patrimônio ambiental do Cerrado e para o fortalecimento da consciência ambiental entre as futuras gerações.