Em 16 de julho de 1945, o mundo presenciou um momento decisivo com a primeira detonação experimental de uma bomba atômica no Novo México, EUA. Esse evento não apenas marcou o início da era nuclear, mas também gerou preocupações profundas entre os cientistas presentes. Antes do teste, muitos especialistas expressaram temores sobre a possibilidade de que a explosão nuclear pudesse desencadear uma catástrofe global, criando uma “fornalha atmosférica” que poderia consumir a atmosfera da Terra, resultando na extinção em massa de diversas espécies em questão de horas. Apesar dos riscos iminentes, o teste foi realizado.
Após intensas discussões e cálculos críticos, a equipe do Projeto Manhattan, liderada por Robert Oppenheimer, decidiu que a bomba não teria o potencial de incinerar o planeta. O governo dos Estados Unidos aceitou o risco e deu o sinal verde para o teste, que, de fato, poderia ter levado à aniquilação da vida como a conhecemos. A explosão não resultou em uma catástrofe global, mas a experiência erodiu o restante do senso de sobrevivência da humanidade e a capacidade de razoabilidade, deixando como resquício a imprevisibilidade da destruição causada por tecnologias avançadas.
Esse ato simbólico inaugurou uma nova era, na qual a destruição da vida no planeta se tornou uma consequência secundária, considerada aceitável em prol do progresso humano. A facilidade de causar danos irreversíveis agora estava ao alcance de um simples botão, fazendo com que a humanidade se distanciasse ainda mais dos princípios de preservação da vida. Este desdobramento foi impulsionado pelas mudanças trazidas pela Segunda Guerra Mundial, que não só aceleraram a produção industrial e aumentaram a emissão de poluentes e gases de efeito estufa, mas também abriram as portas para um mundo dominado por corporações poderosas.
A despeito do apocalipse atômico ter se tornado um aspecto comum da existência moderna, argumentos em defesa do meio ambiente encontraram dificuldade em rivalizar com as promessas sedutoras do consumismo. A publicidade contemporânea continua a oferecer status e diversão, enquanto a mudança climática, resultante da industrialização desenfreada, é frequentemente considerada um fenômeno natural, desprovido de responsabilidade atribuível a indivíduos, empresas ou governos.
Desde o início do século XX, grandes conglomerados norte-americanos e europeus, como GM, Ford, renault, Standard Oil, Firestone, Bayer, Krupp, Siemens, Du Pont, Monsanto entre outros, já estavam investindo fortemente na criação de uma cultura de consumo em massa. Nesse cenário, o petróleo tornou-se uma commodity imprescindível, gerando ainda mais lucros do que o carvão, com impactos significativos nas indústrias de plásticos, cimento, farmacêuticos, pesticidas e munições, além de alimentar o crescimento da indústria automobilística, naval, aeronáutica e espacial, tanto para fins militares quanto civis. No entanto, a explosão de oportunidades econômicas após a guerra foi incomparável.
Em um giro irônico da história, o ex-presidente americano Jimmy Carter, do Partido Democrata, implementou painéis solares na Casa Branca e fez campanha a favor de um consumo responsável e da transição energética. Conhecedor de um estudo do MIT, publicado em 1971, que identificou 13 cenários possíveis de colapso global devido à poluição, escassez de recursos e superpopulação, Carter demonstrou visão sobre os desafios ambientais que a humanidade enfrentaria. No entanto, suas ideias não encontraram apoio suficiente e ele não foi reeleito.
Hoje, à beira do que se pode chamar de antropoceno, e com a produção de petróleo atingindo níveis alarmantes, é imprescindível questionar se ainda há vontade política e viabilidade para a construção de um modelo econômico sustentável. A resistência demonstrada pela humanidade, há 80 anos, diante da iminente catástrofe nuclear, sugere que a atual ameaça de degradação ambiental, que inclui a poluição gerada por automóveis, a destruição de florestas e o aumento do consumo, não será suficiente para deter a busca incessante pelo progresso econômico e material.
Com o desafio de equilibrar crescimento econômico e responsabilidade ambiental, é essencial que a sociedade atual procure urgentemente alternativas que priorizem a sustentabilidade e a preservação do que resta de nosso planeta. A reflexão e a ação se fazem mais necessárias do que nunca.