O Fascínio pela Fruta
Às primeiras horas da manhã, Rayná de Andrade, empreendedora e proprietária da confeitaria Rayná Doces, já está na Central de Abastecimento do Distrito Federal (CEASA-DF) em busca dos morangos mais frescos. Há dois anos, ela se dedica a criar delícias que, neste momento, estão em alta demanda. Diariamente, Rayná seleciona entre 9 e 10 caixas de morangos para seu negócio, localizado na Vila Planalto, onde suas portas estão abertas das 12h às 20h.
A popularidade do “morango do Amor”, uma iguaria que combina morangos frescos com brigadeiro branco e uma calda caramelizada, tem impulsionado essa intensa busca. O doce, que remete à tradicional “Maçã do Amor”, conquistou o coração dos consumidores e dos confeiteiros, que veem nele uma oportunidade de incrementar suas rendas.
Os números não mentem: de julho de 2024 para julho de 2025, o volume de morangos comercializados no Ceasa-DF subiu de 118,3 toneladas para 123 toneladas. O preço médio da fruta também acompanhou essa tendência, saltando 34%, passando de R$ 26,08 para R$ 31,66 por quilo.
Daniel Dantas, diretor operacional do CEASA, destaca que, apesar da crescente demanda, a oferta é limitada devido a condições climáticas adversas. “A expectativa é que os preços continuem elevados, com uma possível retração apenas na segunda quinzena de agosto, dependendo da recuperação da produção em Minas Gerais”, explica.
O Impacto da Demanda
Desde a recente ascensão do “morango do Amor”, que explodiu em popularidade há pouco mais de uma semana, as vendas de Rayná dispararam. “No primeiro dia, consegui vender 50 unidades em menos de uma hora. Agora, faço de 4 a 5 reposições por dia, e chegamos a comercializar até 300 unidades em um único dia”, afirma Rayná.
Apesar de cada unidade custar em média R$ 20, tanto na versão inteira quanto na especial “de coração”, feita com morangos menores, a demanda é tão alta que os produtos costumam esgotar antes do encerramento do expediente.
Esse fenômeno teve um impacto significativo no faturamento de julho, um mês tradicionalmente mais fraco devido ao período de férias. O lucro saltou de cerca de R$ 18 mil para R$ 32 mil, superando até mesmo os resultados alcançados na Páscoa. “Encontramos mais de 60% de aumento no faturamento e conquistamos muitos novos clientes, especialmente através de entregas via aplicativos e pela recomendação nas redes sociais”, celebra.
Do Campo à Confeitaria
O sucesso do “morango do Amor” não surge do nada; ele começa nas plantações, onde os produtores buscam métodos de cultivo mais saudáveis. Roberta e Eliseu Corazza, de Planaltina de Goiás, são exemplos de quem se dedica ao cultivo de morangos. Desde 2019, o casal cuida de 7 mil pés de morango em sua chácara, onde Roberta deixou um emprego no banco para se dedicar à produção. A colheita é realizada duas vezes por semana, com seleção manual e entrega direta para confeitarias.
Com o aumento da demanda, especialmente para sobremesas à base de morango, eles passaram a disponibilizar bandejas padronizadas, facilitando assim o trabalho das confeiteiras. O preço do quilo, que era R$ 30 no ano passado, agora alcança R$ 50. “Nosso objetivo é oferecer um morango bonito, fresco e saudável, que faça diferença nas receitas dos nossos clientes”, afirma Roberta.
Produção Sustentável e Segurança Alimentar
Outros produtores da região também estão adotando práticas mais seguras e sustentáveis. De acordo com a Emater-DF, em 2024, o Distrito Federal já contava com 15 produtores comerciais de morango orgânico, que juntos são responsáveis por 176 toneladas da fruta. Essa nova abordagem demonstra um compromisso com a qualidade e a saúde do consumidor.
A Anvisa mantém um olhar atento sobre a comercialização de morangos no país por meio do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Desde maio de 2025, a agência tem coletado amostras de 13 alimentos, incluindo morangos, que são analisadas em diversas regiões do Brasil, inclusive no DF.
Essas coletas acontecem em mercados de varejo, como supermercados e sacolões, refletindo a condição dos produtos no momento da compra. As análises são parte do terceiro ciclo do Plano Plurianual 2023–2025, que abrange aproximadamente 80% do consumo vegetal em nível nacional.