Monitoramento constante e denúncias graves
O ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, fez revelações impactantes nesta quarta-feira (17/9). Segundo ele, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, solicitava frequentemente, através de juízes auxiliares, relatórios sobre as redes sociais da deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP). Tagliaferro, que liderou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação no TSE entre agosto de 2022 e maio de 2023, afirmou que, durante a presidência de Moraes na Corte, havia uma vigilância intensiva sobre a parlamentar.
“Era uma perseguição ativa, constante. Com uma frequência que variava de duas a quatro vezes por semana, eu recebia solicitações para monitorar tudo que envolvesse Carla Zambelli nas redes sociais”, declarou o ex-assessor, que prestou depoimento à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. Segundo ele, Zambelli era um dos principais alvos entre parlamentares e influencers de direita, que estavam sob análise a mando do ministro.
Relatórios e Comunicações Intrigantes
Tagliaferro relatou que a fiscalização era executada por servidores do gabinete de Moraes, utilizando ferramentas de inteligência para compilar dados. Ele possui documentos que incluem relatórios, e-mails endereçados ao gabinete do ministro e diálogos trocados via WhatsApp, os quais, segundo ele, evidenciam a intenção de perseguir Zambelli. “Havia conversas em que se dizia claramente: ‘Vamos pegá-la’”, afirmou.
Acusações e Controvérsias
O ex-assessor enfrenta sérias acusações, sendo suspeito de vazar informações confidenciais entre os servidores de Moraes no STF e no TSE para a imprensa. Em agosto, o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, formalizou uma denúncia contra Tagliaferro ao STF, alegando crimes como violação de sigilo funcional e tentativa de obstrução de investigações. A Polícia Federal havia indiciado Tagliaferro em abril, ao descobrir que ele teria passado adiante informações sigilosas, incluindo diálogos internos.
Além disso, Tagliaferro fez acusações graves contra Moraes, afirmando que o ministro teria falsificado relatórios para justificar ações contra empresários ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022. Moraes, por sua vez, refuta tais alegações.
Questões Legais e Situação da Deputada
Atualmente foragido na Itália, Tagliaferro teve um pedido de extradição enviado por Moraes ao Ministério da Justiça em agosto. Suas contas financeiras estão bloqueadas sob a ordem do ministro. Desde então, ele passou a criticar Moraes e tem buscado apoio entre aliados de Bolsonaro para sustentar suas denúncias.
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Quanto a Carla Zambelli, ela enfrenta sua própria tempestade legal. A deputada, que aguardava julgamento na Itália após ter fugido do Brasil em maio, foi condenada a dez anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto. A Corte ainda decidiu pela perda de seu mandato parlamentar.
Andamentos no Processo
No decorrer do processo de cassação da deputada, que está sendo analisado pela CCJ, Zambelli já teve suas testemunhas ouvidas. No último dia 10, o hacker Delgatti foi o primeiro a depor e confirmou que a deputada foi quem o instruiu a invadir o sistema do CNJ. Ele alegou que Zambelli “exerceu comando direto sobre os crimes” e que, sem ela, “nunca teria invadido o sistema”. Delgatti também mencionou que Zambelli havia aprovado a inclusão de um mandado de prisão contra Moraes no sistema do CNJ, um documento que pretendia demonstrar a vulnerabilidade do sistema e apoiar a narrativa de fraude nas eleições de 2018.