Na noite de domingo (13), recebi um alerta intrigante de Dênis Ferraz, um analista renomado no mercado financeiro: “Nossa bolsa fez low… esse inflow recorde, leia-se china, foi uma cavalice!” Embora a mensagem tenha me soado confusa, intuí que a informação era relevante e respondi: “Amigo, poderia desenvolver mais?”
Compreendendo que havia agido de forma apressada, Ferraz se dispôs a explicar: “Léo, veja esse gráfico” – e enviou uma imagem que ilustrava um fluxo recorde de dinheiro direcionado a mercados emergentes na semana anterior. “Entretanto, nossa bolsa está operando abaixo de 130.000 pontos, depois de ter atingido 139.000 pontos há alguns meses. Em resumo, entre os países emergentes, o brasil foi um dos poucos a registrar saídas de investimentos. Isso é um reflexo claro da crise fiscal, com o banco central elevando as taxas de juros…”
Essa análise de Ferraz se alinha com o cenário desolador que o economista André Perfeito tem apontado, especialmente seu papel como crítico das visões excessivamente pessimistas do mercado. Em um artigo intitulado “O mercado espera – e constrói – uma recessão”, Perfeito enfatiza a hipersensibilidade do mercado em relação aos comentários de Lula sobre propostas que envolvem aumento de gastos. Ele destaca que os investidores tendem a “descontar a valor presente a uma taxa extremamente elevada” – o que interpreto como uma combinação da alta nos juros futuros, a valorização do dólar e a queda na bolsa – em resposta ao discurso político do presidente.
Esse cenário apresenta um dilema complicado. Lula, ao longo de sua trajetória, sempre foi visto como alguém que equilibra discursos acalorados com atitudes pragmáticas. Quando se trata de política econômica, isso implica que nem todas as promessas feitas seriam cumpridas na íntegra. Sempre haveria um filtro de moderação.
Essa ambivalência, que o mercado passou a reconhecer como característica da personalidade de Lula desde 2002, acabou favorecendo suas campanhas eleitorais. Ele poderia assumir posturas agressivas fiscalmente, pois muitos acreditavam que, no momento decisivo, ele escolheria um caminho de responsabilidade. Essa flexibilidade permitiu que Lula fizesse promessas ousadas sem provocar uma crise iminente no mercado.
No entanto, esse cenário parece ter mudado drasticamente. Desde 2023, o aumento persistente dos gastos públicos e a falta de reconhecimento sobre limites fiscais para suas propostas políticas retiraram de Lula aquele benefício da dúvida que outrora lhe era concedido. Hoje, suas declarações são analisadas de forma direta e séria pelos agentes econômicos.
A situação se degradou ainda mais após as últimas eleições municipais, quando as pesquisas de popularidade revelaram um desempenho insatisfatório de Lula, mesmo depois que ele apresentou medidas inovadoras que, na verdade, se mostraram apenas ampliações de políticas já existentes, como a criação de um novo programa de auxílio gás e uma nova bolsa universitária. A pressão que o presidente enfrenta agora não provém apenas das expectativas dos eleitores, mas sim de um legado histórico que irá definir a maneira como sua administração será lembrada.
Diante desse contexto, surgem interrogantes sobre as chances de Lula optar por um caminho mais cuidadoso, especialmente agora que começam a surgir as consequências de uma situação fiscal insustentável. Ele fará um ajuste fiscal que prepare o terreno para 2026? Ou continuará tentando impulsionar a economia, ignorando os sinais de superaquecimento, enquanto busca aprovar aumentos de arrecadação e critica aqueles que levantam bandeiras sobre questões fiscais como se fossem inimigos da população?
Essas são questões complexas e ainda sem respostas definitivas. Entretanto, a mensagem clara dos economistas Dênis Ferraz e André Perfeito é que o mercado tornou-se mais exigente e não está mais disposto a conceder confiança gratuita a Lula. A expectativa agora é de que ele honre suas promessas com ações concretas: “falou, pagou!” O cenário se tornando incerto, o desenrolar dos próximos meses será crucial para determinar o futuro econômico do brasil e as repercussões sobre a governança de Lula.