Contextos Históricos e Desafios Atuais
Seis décadas se passaram desde que os presidentes dos Estados Unidos, John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson, incentivaram a destituição de João Goulart, resultando em uma ditadura militar que perdurou por 21 anos no Brasil. Durante esse período sombrio, ministros do Supremo Tribunal foram afastados, o Congresso foi fechado, e práticas de censura e tortura tornaram-se rotineiras. Hoje, observamos um novo cenário, onde Donald Trump utiliza tarifas para pressionar o Brasil em relação ao julgamento de um ex-presidente militar que tentou efetivar um golpe. Contudo, é encorajador ver um presidente e membros do Supremo resistindo a essa pressão, respaldados por instituições sólidas e uma população unida em defesa da soberania nacional.
Apesar de 40 anos de democracia, ainda enfrentamos questões críticas que nos impedem de dissuadir as investidas de líderes norte-americanos. O atual mandatário dos Estados Unidos continua a nos tratar como uma nação de segunda classe. Avançamos para 2025 sem ter assimilado de fato a lição deixada por 1964.
Desafios Estruturais e a Necessidade de Mudança
Com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil ainda apresenta baixos índices de produtividade e concentração de renda elevada. Não conseguimos fortalecer nosso mercado interno o suficiente para absorver a produção que os EUA se recusam a comprar. Dependemos das exportações de produtos que nossa população quer, mas não pode consumir devido à falta de poder aquisitivo.
A educação é outro ponto crucial. As crianças nascidas em 1985 hoje têm 40 anos, mas o Brasil ainda não conta com uma população suficientemente educada para enfrentar os desafios contemporâneos. Essa lacuna educacional dificulta a melhoria da produtividade e a distribuição de renda, limitando nossa resiliência frente a pressões externas. Embora tenhamos alcançado alguma diversificação nos destinos de nossas exportações, isso ainda é insuficiente para que países como os Estados Unidos percebam que suas pressões podem ter efeitos limitados sobre nós.
A Necessidade de Uma Força Armada Eficaz
A nossa economia continua dependente de produtos primários, como minérios e commodities agrícolas. Uma maior diversidade, tanto de produtos quanto de mercados de exportação, pode nos conferir um poder de dissuasão mais robusto contra agressões. O descaso com que o presidente norte-americano nos trata reflete, em parte, a falta de Forças Armadas preparadas para proteger nossos portos e aeroportos. Não será surpresa se surgirem propostas para revogar o artigo 21 da Constituição, que proíbe o Brasil de possuir armas nucleares. Essa é uma situação complexa, que reflete as tensões entre o realismo geopolítico e os ideais humanistas defendidos pelos constituintes.
No entanto, armar nossas Forças Armadas não será suficiente se seus oficiais, em 2025, continuarem a sonhar em servir aos Estados Unidos, como evidenciado pelo ex-presidente Bolsonaro. Não aprendemos com os erros de 1964; é hora de, em 2025, construir um poder de dissuasão que nos prepare não apenas para os próximos presidentes dos Estados Unidos, mas para líderes de outras nações no futuro.
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Para isso, precisamos de um mercado interno dinâmico, de educação de qualidade acessível a todos, e da diversificação de produtos e mercados. Além disso, é fundamental desenvolver um sistema de defesa nacional que esteja verdadeiramente comprometido com a democracia e a soberania brasileira.
Cristovam Buarque, ex-senador, governador e ministro, reflete sobre a necessidade urgente de aprendizado e transformação do Brasil.