Desafios de Segurança em Sobradinho
A juíza Iracema Botelho, do Distrito Federal, expressou preocupações sobre a situação no assentamento Dorothy Stang, em Sobradinho. Ela o classificou como “palco de verdadeiras guerras pelo domínio da ocupação e controle do crime organizado, com tráfico de drogas, de armas, e outros crimes”. Este assentamento, que homenageia a missionária católica Dorothy Stang, assassinada em 2005 por seu ativismo contra a exploração ilegal das florestas, enfrenta atualmente desafios significativos em relação à segurança pública.
Recentemente, em uma decisão proferida no dia 30 de setembro, a juíza condenou Romário Gil de Sousa Nascimento, membro do Primeiro Comando da Capital (PCC), por tentativa de homicídio em Sobradinho. A sentença resultou em uma pena de 16 anos e 4 meses, que se somam a outros 94 anos a que o réu já havia sido condenado, totalizando uma pena de 110 anos. Ele permanecerá encarcerado na Penitenciária Estadual de Formosa, em Goiás.
A magistrada ressaltou que “os personagens mudam, vez ou outra, outros aparecem, e as relações entre os criminosos sofrem alterações”. Ela apontou uma crescente conexão entre organizações criminosas de diferentes regiões, incluindo o DF, Goiás, São Paulo e Piauí. Este fenômeno é preocupante, visto que o Distrito Federal tem testemunhado uma mudança significativa em seus padrões de criminalidade.
“Os aumentos nas organizações criminosas, as alianças entre facções rivais e o fortalecimento do poder de fogo contra o Estado são pontos críticos. Além disso, as invasões de áreas, baseadas na falsa premissa de que se destinam a moradias, têm se mostrado uma preocupação crescente”, afirmou a juíza.
Entendendo os Últimos Acontecimentos
A cadeia de eventos que levou à condenação de Romário começou em julho de 2023, quando ele atirou em um homem durante uma disputa por um lote irregular em Sobradinho. Romário, que já estava foragido por outro homicídio em Goiás, contratou a advogada Carla Aparecida Rufino Freitas com o intuito de evitar a prisão. Em um plano articulado por ela, Romário pagou R$ 3 mil a uma pessoa para assumir a autoria dos disparos, enquanto tentava obter informações sobre mandados de prisão através de um servidor do TJDFT.
Rigel dos Santos Brito, o técnico judiciário envolvido, foi pago R$ 50 para vazar informações, mas acaba de se tornar réu por corrupção passiva. A trama foi exposta após a prisão de Romário pelo homicídio anterior em Goiás, levando a polícia a investigar seu celular, onde descobriram a troca de mensagens entre ele e sua advogada, além do envolvimento do servidor.
A Operação Temis e suas Consequências
A Operação Temis, realizada em julho de 2024, resultou na prisão de Carla e Rigel, que agora respondem ao processo em liberdade após um habeas corpus. A defesa do servidor argumenta que ele apenas acessou informações públicas e não se recorda de ter recebido o pagamento de R$ 50, sugerindo que isso pode ter sido relacionado a dívidas de jogos, e não ao vazamento de informações.
Rigel foi suspenso de suas funções por 90 dias, e o TJDFT informou que o servidor está cumprindo a penalidade, enquanto um processo administrativo disciplinar foi instaurado contra ele. A corte também salientou que Rigel recebeu todos os vencimentos até o início de sua suspensão, conforme o princípio constitucional que protege o devido processo legal.
A situação criminosa em Sobradinho, como a juíza destacou, é um reflexo de um problema maior que atinge o Distrito Federal. A interligação entre facções, as invasões disfarçadas de moradia e a corrupção no sistema judiciário são temas que exigem análise e ações contundentes para mitigar os danos à segurança pública e ao estado de direito.