O distrito federal enfrentou um dos episódios mais severos de seca em sua história no ano de 1963, contabilizando impressionantes 163 dias consecutivos sem chuvas, conforme informado pelo Instituto Nacional de Meteorologia. Essa situação climática extrema se reflete nas dificuldades atuais na região, onde um incêndio florestal devastador ocorre no Parque Nacional de Brasília. O coordenador de Manejo Integrado do Fogo do ICMBio, João Morita, relatou à Agência Brasil que, neste momento, 93 corajosos combatentes de várias instituições, incluindo ICMBio, Corpo de Bombeiros e PrevFogo, estão engajados na luta contra as chamas, apoiados por um avião e um helicóptero para ampliar a eficácia das operações de combate ao fogo.
Atualmente, as chamas permanecem incontroláveis nas mesmas localizações atingidas anteriormente, e Morita lamentou a dificuldade em debelar o incêndio. Ele afirmou: “Queríamos tê-lo controlado ontem, mas não foi possível. Continuaremos nossos esforços na tentativa de controlar a situação hoje. Se não conseguirmos, redobraremos nossos esforços amanhã.” Ele também mencionou que existem áreas onde o incêndio se espalha rapidamente, demandando atenção redobrada das equipes no local.
O incêndio teve início por volta das 11h30 de domingo, dia 15, e, até o momento, não há uma previsão clara para o seu controle. As operações foram suspensas na noite anterior, às 22h, e retomadas às 6h de hoje, quando as equipes de emergência voltaram ao local em busca de soluções para conter o avanço das chamas.
Devido à gravíssima qualidade do ar causada pela fumaça densa nas proximidades do parque, a Secretaria de Educação do distrito federal optou por suspender as aulas nas escolas da região. A cidade amanheceu com uma nuvem de fumaça, reduzindo drasticamente a visibilidade e gerando um forte odor característico da queima.
A princípio, o ICMBio havia reportado que cerca de 1,2 mil hectares da vegetação do parque foram consumidos pelo incêndio. Contudo, essa área foi posteriormente recalculada. É importante destacar que um hectare corresponde, em média, ao tamanho de um campo de futebol profissional, e o Parque de Brasília abrange uma vasta extensão de 42,3 mil hectares. Para se ter uma noção da magnitude dos incêndios, o maior ocorrido até então, em 2010, devastou 15 mil hectares dessa área imensa.
Na manhã desta segunda-feira, 16, três agentes da Polícia Federal (PF) se deslocaram até o Parque Nacional de Brasília para investigar a origem do incêndio. João Morita, do ICMBio, levantou uma hipótese alarmante: como não foram registrados raios na área, a possibilidade é de que o fogo tenha sido ateado intencionalmente. “Fornecemos as informações sobre a localização do início do incêndio, e a Polícia Federal iniciará o processo de perícia no local. Dado que não houve chuvas recentes, a única explicação plausível é que alguém provocou o incêndio deliberadamente”, acrescentou.
Quanto aos impactos ambientais, ainda não foram relatados incidentes de fauna, uma vez que os animais possuem rotas de fuga para escapar do fogo. No entanto, Morita salientou que as chamas estão causando danos significativos à vegetação nativa, especialmente às matas de galeria que desempenham um papel crucial na proteção dos cursos d’água. “O incêndio não se limita apenas ao cerrado aberto, mas também está consumindo aquelas matas que existem ao longo dos rios. O fogo teve seu início na região do córrego do Bananal, próximo à captação de água da Caesb”, observou.
A presença de fumaça densa resultou na decisão da Universidade de Brasília (UnB) e de diversas escolas nas redondezas do Parque Nacional de Brasília de suspender as aulas presenciais. As torres responsáveis pela medição da qualidade do ar na região são antigas, fornecendo dados apenas uma vez a cada seis dias. O presidente do Instituto Brasil Ambiental (Ibram), Rôney Nemer, expressou preocupação com a confiabilidade das medições realizadas e destacou que o governo do distrito federal está em processo de aquisição de novos equipamentos de monitoramento.
“Durante a noite do último domingo, a qualidade do ar ficou bastante comprometida devido à calmaria do vento, que fez com que a fumaça se acumulasse, especialmente na região norte do Plano Piloto de Brasília. No entanto, com a chegada do dia, o vento começou a circular novamente, conseguindo dissipar parte da fumaça e melhorar a qualidade do ar”, finalizou Nemer. A capital federal enfrenta, portanto, um cenário desafiador, em meio ao combate ao incêndio que afeta não apenas o meio ambiente, mas também a saúde e a rotina da população local.