**Prevenção de Incêndios no Matopiba: Um Desafio Coletivo no Cerrado**
No vasto território do Matopiba, os esforços para prevenir e enfrentar incêndios fl florestais têm sido intensificados, especialmente no setor agropecuário. O quarto e último episódio da série especial ‘Cerrado Sem fogo’ se dedica a destacar a importância da conscientização e das práticas adotadas por agricultores locais em relação a queimadas e seus impactos.
Assim como discutido nos episódios anteriores, as queimadas representam uma séria ameaça aos sistemas agroecológicos, comprometendo toda a rede de práticas sustentáveis que têm sido promovidas, baseadas em evidências científicas rigorosas na agricultura. As consequências são alarmantes, pois estas queimadas não apenas afetam a produção agrícola, mas também o meio ambiente de modo geral.
Um dos depoimentos mais impactantes vem de Júlio Takahashi, um produtor rural de Balsas, no Maranhão. Ele compartilha sua experiência enfrentando um incêndio em sua propriedade, destacando a gravidade da situação: “Já temos área de plantio queimada aqui e uma palhada comprometida. Ontem, quase tivemos um acidente com graves proporções, então, é muito perigoso o fogo nessa época”, revela Takahashi. O relato dele não é uma ocorrência isolada, mas reflete uma realidade vivida por muitos produtores em tempos de seca e aumento dos focos de incêndio.
A relação entre seca e fogo é enfatizada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), cujo relatório de setembro apontou os severos prejuízos ao setor agropecuário em razão da seca que afeta o Brasil. Em agosto, 963 municípios apresentaram pelo menos 80% de suas áreas agroprodutivas potencialmente impactadas por essa condição climática. O Mapbiomas, em seu monitoramento de queimadas, relatou que o Cerrado foi o bioma mais atingido, com impressionantes 2,4 milhões de hectares queimados, representando 43% da área total afetada no país nesse período.
José Cláudio de Oliveira, sócio-proprietário da JCO Bioprodutos, também enfatiza o impacto negativo do fogo sobre os produtores. “Nenhum agricultor deseja iniciar um incêndio. Existe uma percepção equivocada na sociedade urbana que coloca a culpa nos agricultores. O fogo é devastador e prejudicial para todos nós”, afirma Oliveira.
Wellson de Castro, coordenador de gestão ambiental do Grupo Progresso, acrescenta que suas fazendas enfrentam anualmente a ameaça de incêndios florestais. “Muitas vezes, caçadores em áreas de reserva legal ateiam fogo para limpar o terreno ou afugentar animais, resultando em consequências desastrosas para o meio ambiente e a agricultura,” comenta de Castro.
Nesse cenário desafiador, as entidades do setor possuem um papel fundamental na busca por soluções. Greice Fontana Klein, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, ressalta a importância das instituições em promover a disseminação correta das informações aos agricultores. “Levar a informação correta ao produtor é uma das funções mais importantes das instituições”, destaca.
Alessandra Zanotto, vice-presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), alerta que vincular queimadas ao agronegócio é mensurar um prejuízo incalculável. Para ela, esse entendimento é crucial para evitar estigmas injustos dirigidos aos agricultores. Em consonância, Gustavo Prado, diretor-executivo da Abapa, reforça que é uma inverdade acreditar que os produtores são os causadores de incêndios. “Quando surge a primeira chama, nós agimos rapidamente para combatê-la. A ideia de que o agronegócio é responsável pelos incêndios é enganosa. Na verdade, o agronegócio trabalha para proteger o meio ambiente”, enfatiza o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).
A preocupação com as consequências dos incêndios é compartilhada por muitos, e as futuras gerações enfrentam um futuro incerto em um planeta sob constante ameaça. “A mensagem que devemos passar é que todos nós — produtores, associações, governo e sociedade em geral — temos uma responsabilidade compartilhada por essa grande causa e o impacto significativo que isso traz ao nosso país”, conclui Alessandra Zanotto.
Enquanto isso, a natureza luta contra as chamas em meio às cinzas, reafirmando que o Cerrado só poderá prosperar quando estiver livre do fogo.
O projeto Cerrado Sem fogo, uma iniciativa do Canal Rural Bahia, conta com a colaboração da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), da JCO Bioprodutos, do Grupo Progresso e do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, destacando o compromisso de todos na proteção do meio ambiente e na promoção da agricultura sustentável.