Pesquisadores do Klick Labs estão na vanguarda da inovação ao desenvolver um método inovador que utiliza inteligência artificial (IA) para identificar a hipertensão por meio da análise vocal. A pesquisa, que foi publicada no IEEE Access na terça-feira (10), visa aprimorar o diagnóstico precoce da pressão alta, um problema de saúde pública crescente. Essa abordagem representa um avanço significativo na forma como a hipertensão pode ser reconhecida e tratada.

No decorrer de um estudo abrangente envolvendo 245 participantes, os cientistas solicitaram que cada indivíduo gravasse sua voz até seis vezes ao dia ao longo de um período de duas semanas. Para isso, foi utilizado um aplicativo móvel, especificamente desenvolvido pela equipe de pesquisa. Os resultados mostraram que a tecnologia foi capaz de detectar a hipertensão com uma impressionante precisão de 84% entre as mulheres e 77% entre os homens, revelando o potencial da análise vocal na triagem dessa condição médica.

Mas como exatamente a inteligência artificial é capaz de detectar a pressão alta utilizando a voz? Essa técnica inovadora baseia-se na avaliação de uma série de biomarcadores vocais que, convencionalmente, são invisíveis ao ouvido humano. O aplicativo inteligente emprega sofisticados algoritmos de aprendizado de máquina para examinar variáveis como a variabilidade no tom (frequência fundamental), os padrões de distribuição de energia da fala (coeficientes cepstrais de frequência Mel) e a clareza nas alterações sonoras (contraste espectral). Essa análise profunda permite que a tecnologia identifique alterações sutis na voz, que podem estar associadas à hipertensão.

De acordo com Yan Fossat, vice-presidente sênior do Klick Labs e principal autor do estudo, a equipe encontrou uma maneira acessível de detectar a hipertensão ao alavancar múltiplos classificadores e criar modelos preditivos baseados no gênero. Essa descoberta é um passo importante em direção à intervenção precoce para um problema de saúde que afeta milhões de pessoas no mundo. A hipertensão é um fator de risco conhecido para uma série de complicações graves, que incluem desde ataques cardíacos e problemas renais até demência, o que torna essa inovação ainda mais relevante.

A nova tecnologia não apenas amplia as possibilidades de diagnóstico, mas também pode facilitar o acesso à triagem da hipertensão. Segundo a Organização Mundial da saúde (OMS), cerca de 1,28 bilhões de adultos entre 30 e 79 anos sofrem de hipertensão, dos quais aproximadamente dois terços residem em países de baixa e média renda. Alarmantemente, 46% dessas pessoas não têm ideia de que estão com a condição. Os métodos tradicionais de medição da pressão arterial muitas vezes requerem equipamentos especializados e pessoal treinado, o que pode ser um obstáculo significativo em áreas com recursos limitados.

A pesquisadora Jaycee Kaufman, parte da equipe do Klick Labs, enfatiza que “a tecnologia de voz tem o potencial de transformar exponencialmente a assistência médica, tornando-a mais acessível e econômica, especialmente para grandes populações necessitadas”. Essa afirmação destaca não apenas a aplicabilidade prática do método, mas também sua capacidade de desmistificar o acesso a cuidados de saúde.

Além das promissoras aplicações na detecção da hipertensão, o Klick Labs também está explorando outras utilizações da tecnologia de análise vocal em conjunto com a inteligência artificial. Em uma pesquisa publicada na Mayo Clinic Proceedings: Digital Health em outubro de 2023, a equipe demonstrou que a análise vocal também pode ser utilizada para diagnosticar diabetes tipo 2 com eficácia. Além disso, outra pesquisa divulgada na Scientific Reports confirmou a correlação entre os níveis de glicose no sangue e a tonalidade da voz.

Jaycee Kaufman acrescentou que “nossa pesquisa contínua está cada vez mais evidenciando a promessa significativa dos biomarcadores vocais na detecção de hipertensão, diabetes e uma gama crescente de condições de saúde“. Com essas descobertas, o futuro da análise vocal como uma ferramenta diagnóstica está se mostrando extremamente promissor, com a possibilidade de redesenhar as abordagens tradicionais para monitorar e gerenciar a saúde, tornando os cuidados médicos mais inclusivos, acessíveis e simples para todos. Essa revolução na forma como abordamos a saúde pública pode ser fundamental para reduzir o impacto de doenças crônicas que afetam milhões de pessoas ao redor do mundo.

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