Controle Rigoroso e Denúncias de Abuso

Em depoimentos ao Ministério Público do Trabalho na Paraíba e à Polícia Civil, ex-funcionários compartilharam detalhes alarmantes sobre a rotina dos menores que residiam na casa do influenciador Hytalo Santos e de seu parceiro, Israel Nata Vicente, em João Pessoa (PB). O casal, que foi detido na última sexta-feira, dia 15, enfrenta investigações por tráfico de pessoas e exploração sexual de adolescentes.

De acordo com relatos veiculados pelo programa Fantástico, da TV Globo, os ex-funcionários, cujas identidades foram protegidas, explicaram que Hytalo exercia um controle absoluto sobre os jovens fora das câmeras. Na residência, além do casal, habitavam outras 10 pessoas, incluindo quatro menores de idade.

Uma testemunha descreve Hytalo como “uma pessoa soberba, que exigia que tudo ocorresse segundo sua vontade.” Outro ex-funcionário complementou, afirmando que “se algo não acontecesse conforme ele desejava, ele dispensava as pessoas.”

O acesso a celulares era estritamente proibido. Um terceiro ex-colaborador revelou que “os celulares eram armazenados em uma caixa ou mantidos sob chave em seu quarto. Ele tinha um temor profundo de que alguém registrasse seu comportamento nas câmeras.”

Alimentação e Educação Controladas

Além do controle sobre dispositivos eletrônicos, a alimentação dos adolescentes também era rigidamente controlada. “Eles só podiam comer quando Hytalo permitisse”, relatou uma testemunha. “Só podiam se alimentar quando ele acordasse, e mesmo assim, apenas se ele realmente autorizasse.”

Os depoimentos ainda indicam que os menores frequentemente faltavam à escola. “Houve filmagens que mostraram as crianças indo para a escola, mas depois que as câmeras eram desligadas, elas não estavam realmente indo”, afirmou um ex-funcionário. “Em outras ocasiões, se surgia um compromisso relacionado ao conteúdo que precisasse de um dos menores, eles eram levados rapidamente apenas para assinar a presença.”

O Ministério Público informou que duas escolas foram contactadas e relataram que os adolescentes permaneceram de 40 a 50 dias fora do ambiente escolar. Em depoimento, a coordenadora de uma das instituições disse que os menores alegavam atrasos devido às gravações. Em 2020, uma ação civil foi instaurada para investigar a frequência escolar de um deles, mas o caso foi arquivado após Hytalo atender a algumas exigências do órgão.

Condições Abusivas e exploração sexual

De acordo com a reportagem do Fantástico, outra ex-funcionária testemunhou que Hytalo negligenciava a saúde dos adolescentes, que viviam em regime de cárcere privado, sem permissão para sair sozinhos e sem vida social, tratados como propriedade pessoal do influenciador.

As denúncias também mencionam festas frequentes na mansão, onde o consumo de álcool era comum. “Eu vi muitas festas, e a bebida estava disponível para todos, sem restrições”, declarou uma testemunha. Investigações descobriram que uma das adolescentes engravidou enquanto estava sob os cuidados de Hytalo e acabou perdendo o bebê.

O Ministério Público do Trabalho da Paraíba revelou que os pais dos adolescentes recebiam entre R$ 2.000 e R$ 3.000 mensalmente para permitir que seus filhos morassem com Hytalo, sem nunca ter feito uma denúncia formal contra ele. No entanto, as autoridades afirmam possuir provas robustas de exploração infantil.

Conforme os procuradores, os adolescentes foram aliciados em outras localidades e levados para João Pessoa, onde estavam submetidos a um regime de trabalho forçado. Após a prisão do casal, os jovens foram finalmente devolvidos às suas famílias, residentes em Cajazeiras, cidade natal de Hytalo.

As investigações tiveram início a partir de uma denúncia feita em dezembro de 2024, ganhando maior relevância quando o influenciador Felca publicou um vídeo nas redes sociais denunciando a exploração de menores, citando Hytalo Santos como exemplo do que ele chamou de “adultização”.

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