Reflexões sobre Laços Familiares e Lutas Políticas
Meu pai, com seu jeito sensível de ser, chorava à toa. Como químico, pianista e boêmio, suas lágrimas vinham à tona com pequenos gestos de carinho e com as canções de Isaurinha Garcia. Um amor pelo Sport que beirava a devoção, a ponto de deixar de comparecer ao nascimento de um filho por causa de um jogo. Se ele estivesse aqui, teria dificuldades para entender o cenário atual, especialmente a situação do Sport no Brasileirão, onde o time parece liderar de uma forma inesperada.
Confesso que, assim como ele, herdei essa tendência a chorar. Lembro das vezes em que assisti ao filme E.T. – O Extra Terrestre com meus filhos, e as lágrimas escorriam quando o ET se despedia de Elliott. Com isso em mente, tentei, sem sucesso, não me emocionar ao ler a carta aberta que o senador Flávio Bolsonaro endereçou a seu pai, publicada nas redes sociais. A carta começa com um apelo: “Fica firme, pai, não vão nos calar!”
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O texto é uma mistura de desabafo e apelo político, onde Flávio ressalta que a humilhação enfrentada pela família deixará marcas, mas também será uma motivação na luta por um Brasil livre de opressões. Ele critica a suposta ação de Alexandre de Moraes, que, segundo ele, age como um inquisidor, já com uma sentença pronta, antes mesmo de um julgamento justo. O momento escolhido para essa declaração, logo no início do recesso parlamentar, pareceu estratégico, especialmente porque coincidiu com o Mandela Day, uma data que celebra a luta pela liberdade.
O senador enfatiza a inocência e honestidade do pai, afirmando que todos reconhecem a injustiça que está sendo cometida. A passagem “Deus vai te honrar, pai!” ecoa como um chamado às armas, uma motivação para seus apoiadores permanecerem ao lado da família nesses tempos turbulentos. Contudo, a carta se revela mais como um manifesto do que um consolo, com o objetivo de incitar a indignação entre os adeptos do bolsonarismo.
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É importante lembrar que Bolsonaro está enfrentando processos por ações que teria cometido, e sua situação jurídica se torna mais complicada com as alegações sobre seu filho Eduardo. Este, por sua vez, teria conspirado nos Estados Unidos contra os interesses do Brasil, celebrando sanções que ferem a soberania do país. Essa nova dinâmica, que passou de tarifas a intervenções diretas na política interna brasileira, é preocupante.
As tentativas de Donald Trump de restringir o acesso de ministros do STF aos Estados Unidos ampliam ainda mais essa crise. O ex-presidente americano parece apostar alto, buscando impedir que qualquer sucessor de Lula possa governar de forma independente, reforçando a ideia de que o futuro do Brasil precisa se alinhar aos interesses americanos.
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Nelson Rodrigues uma vez disse que “o Brasil não é uma pátria, não é uma nação, não é um povo, mas uma paisagem.” Esse retrato, embora provocativo, merece ser desafiado. A hora de desmentir essas afirmações pode estar mais próxima do que imaginamos.