O ministro da fazenda, Fernando Haddad, destacou a importância da aprovação da reforma tributária do consumo, afirmando que “seria uma pena não conseguir aprová-la ainda este ano”. Ele revelou que a proposta está, neste momento, sob a responsabilidade da câmara dos deputados e do Senado, e mencionou sua intenção de apresentar uma nova reforma do Imposto de Renda ao longo desse mesmo ano. Haddad esclareceu: “Já compartilhei diferentes cenários com o Presidente da República, que decidirá o momento certo para enviar a proposta. Do ponto de vista técnico, as alternativas estão preparadas, mas as questões políticas envolvem também outros ministérios, além da fazenda. Meu desejo é que possamos finalizar a reforma do consumo antes de avançar para a próxima, que, aliás, promete ser igualmente delicada, visto que as questões fiscais são sempre complexas no Brasil”.
Quando questionado sobre as perspectivas relativas à redução das taxas de juros tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o ministro preferiu não se comprometer. Ele observou que os indicados para o banco central atuam com um foco em decisões técnicas, e não empíricas, dissociadas das vontades do governo. “As discussões sobre política monetária estão ocorrendo globalmente. O banco central deverá considerar as movimentações econômicas nos Estados Unidos, na China, no Japão e em diversas outras partes do mundo ao tomar suas decisões”, ressaltou.
Haddad também comentou sobre a recente desarmonia nas ações dos bancos centrais ao redor do mundo, mencionando a expectativa errônea de que o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos realizaria cortes nas taxas de juros em junho. “A comunicação do Fed foi inesperada, gerando incerteza quanto à possibilidade de cortes futuros. Além disso, a decisão do Banco do Japão de aumentar suas taxas complicou ainda mais o cenário econômico”, enfatizou. O ministro acredita que estamos assistindo a uma reestruturação nas políticas monetárias globais e que os técnicos do banco central precisarão considerar uma série de fatores ao tomarem suas decisões.
Ele também foi claro ao afirmar que, embora pudesse expressar sua opinião, não exerce funções na direção do banco central, e, por isso, não poderia se expor a posicionamentos definitivos. “Se eu fosse diretor, teria que manter uma postura de reserva. No entanto, posso assegurar que a compreensão que tenho sobre o assunto é bem conhecida”, concluiu.
Em outra instância, ao tratar da necessidade da revisão orçamentária para identificar espaços para gastos, Haddad fez questão de reafirmar que o governo está consciente dessa necessidade. Ele explicou que, para haver uma convencimento dos parceiros políticos, é fundamental que os números orçamentários sejam transparentes. “A construção de soluções deve envolver diálogo e persuasão. No ano passado, muitos duvidaram que as iniciativas da fazenda fossem aprovadas, mas, ao final, obtivemos um respaldo significativo em relação às nossas propostas”, disse.
Na questão relacionada às mudanças climáticas, Haddad reconheceu que os desafios orçamentários diante dos eventos climáticos extremos já não podem ser considerados apenas situações extraordinárias. Ele enfatizou sua preocupação contínua com as mudanças climáticas, assumindo um papel ativo ao incluir esse tema no debate econômico, como um ponto central para o desenvolvimento sustentável do país.
Durante uma reunião com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad participaram de uma discussão de três horas sobre um plano proposto pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para enfrentar a questão dos incêndios florestais, aproveitando as experiências do Pantanal e as lições aprendidas no passado. “É essencial abordar não apenas as mudanças climáticas, mas também a criminalidade associada a elas. O negacionismo científico e climático que enfrentamos recentemente amplificou as consequências negativas dessa emergência”, afirmou Haddad, sublinhando a urgência de integrar essa realidade nos orçamentos federais.
Ao ser indagado sobre o emprego de créditos extraordinários para lidar com questões climáticas, o ministro defendeu a posição de que isso não compromete o arcabouço fiscal. “Eventos extraordinários que não se repetirão não desviam o foco das diretrizes fiscais”, argumentou. Por fim, ele reafirmou que o novo arcabouço fiscal não é expansionista e que foram implementadas cláusulas anticíclicas que, no passado, faltavam na Lei de Responsabilidade fiscal. “Estamos enfrentando uma herança de déficits primários ao manter as despesas sob controle, enquanto as receitas aumentam acima da inflação”, concluiu Haddad.