**O Crescente Perigo do Estelionato Virtual: Idosas em Risco**
A solidão, a baixa autoestima e a vulnerabilidade têm se tornado um terreno fértil para a ação de estelionatários, especialmente entre mulheres da terceira idade. Nos últimos dias, uma onda de relatos de familiares nas redes sociais tem revelado situações alarmantes: idosas sendo vítimas de fraudes financeiras por meio de relacionamentos fictícios cultivados em plataformas digitais.
Diversos vídeos circulam na internet, mostrando jovens que revelam que suas avós estão “apaixonadas” por um suposto homem que se apresenta nas redes sociais. Por trás desses perfis, encontramos figuras como José Fernandes e Zinho Claudino, que acumulam aproximadamente 630 mil seguidores. Esses influenciadores digitais criam conteúdo que, à primeira vista, parece inofensivo: eles dublam músicas sertanejas clássicas e compartilham poesias e mensagens românticas. Contudo, o público-alvo – mulheres acima de 60 anos – frequentemente não percebe que se trata de uma performance e acredita genuinamente estar desenvolvendo um relacionamento com esses homens.
O que começou como uma forma de entretenimento saudável rapidamente se transformou em uma questão criminal. Recentemente, José Fernandes revelou em um vídeo que teve que registrar um boletim de ocorrência na delegacia. O motivo? Criminosos estão se passando por ele, utilizando sua imagem para solicitar dinheiro às idosas.
Esses golpistas criam perfis falsos, replicando o conteúdo de José e Zinho, e começam a interagir com suas seguidoras. Após estabelecer um vínculo emocional, eles induzem as vítimas a realizarem transferências de dinheiro e a fornecerem fotos e informações de seus cartões de crédito. Tragicamente, motivadas por emoções, muitas mulheres acabam enviando valores sem hesitar.
José Fernandes, ao alertar suas seguidoras sobre essas fraudes, declarou: “Nunca pedi nada para seguidor nenhum. Quem me acompanha desde o início sabe que sou uma pessoa de respeito e caráter. Quero avisar vocês sobre perfis falsos criados com minhas postagens. Tem gente enviando mensagens a vocês para pedir alguma coisa; fiquem atentos, bloqueiem, não mandem nada.” Apesar de seus avisos claros, muitas seguidoras parecem ignorar o alerta e continuam a expressar seu afeto, como um comentário que diz: “Meu futuro esposo. Eu te amo muito”.
Esse cenário preocupante gerou discussões sobre a responsabilidade legal dos influenciadores e das plataformas de redes sociais. Para entender melhor os aspectos jurídicos dessa questão, conversamos com Rodolfo Tamanaha, advogado e professor de direito na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Ele explica que o estelionato é um crime previsto no Código Penal e ocorre quando alguém induz outra pessoa a erro para obter vantagem econômica. “No caso de estelionato eletrônico, a penalização é ainda mais severa. A pena varia de quatro a oito anos, especialmente quando as vítimas são pessoas vulneráveis, como idosos”, afirmou.
Tamanaha ressalta que, quando o golpe é praticado contra pessoas com mais de 70 anos, não é necessário que a vítima registre uma queixa para que o Ministério Público atue. No entanto, em casos que envolvem vítimas mais jovens, é essencial que haja uma solicitação de ação. Ele também destaca que os influenciadores não podem ser responsabilizados pelas ações dos criminosos, pois, na verdade, eles também são vítimas, tendo suas imagens utilizadas sem consentimento.
A discussão sobre a responsabilidade das plataformas digitais nesse contexto é cada vez mais relevante. O marco civil da internet estabelece que as redes sociais só são responsabilizadas por conteúdo ilícito quando são notificadas por ordem judicial. Tamanaha enfatiza que, para buscar essa responsabilização, é necessário seguir um processo legal que pode ser complexo e demorado.
Para prevenir fraudes, o especialista recomenda que não apenas os idosos, mas todos os usuários das redes sociais evitem realizar transações financeiras baseadas em informações recebidas por essas plataformas. “Nenhum banco solicita informações financeiras por meio de redes sociais. Além disso, personalidades públicas, ao oferecer produtos ou serviços, geralmente usam plataformas de pagamento seguras, não redes sociais”, alerta.
Esses casos de estelionato virtual revelam a importância de uma conscientização maior sobre os riscos nas redes sociais, especialmente para o público mais vulnerável. Educar as pessoas sobre como se proteger e reconhecer fraudes é fundamental para evitar que mais mulheres idosas sejam enganadas por esses esquemas cruéis.