O recente relatório da Hedgepoint Global Markets revelou uma crescente preocupação com os preços futuros do café, os quais têm demonstrado uma tendência de alta. Essa valorização é impulsionada por incertezas em relação à oferta global do grão, um fator crucial para produtores e consumidores. Na manhã de segunda-feira (25), os futuros do café arábica alcançaram um novo marco histórico, atingindo 311,25 cents por libra, um reflexo do clima tenso que cerca a produção cafeeira mundial.
No brasil, que é um dos maiores produtores de café do mundo, a atenção agora se volta para as previsões da safra 2025/2026. As estimativas indicam que a produção pode ser severamente afetada devido a condições climáticas adversas, como períodos de seca extrema e altas temperaturas, que podem comprometer a qualidade e a quantidade do café produzido. De acordo com a analista de café da Hedgepoint, Laleska Moda, embora a produção de café conilon para o ciclo 2024/2025 seja projetada para crescer 12,2%, alcançando 22,6 milhões de sacas, o café arábica poderá ver uma diminuição de 1,4%, totalizando 42,6 milhões de sacas.
Essas análises sugerem que, embora a oferta total do café no brasil possa inicialmente ser estimada em 65,2 milhões de sacas — um aumento de 2,9% em relação à safra anterior, que foi de 63,4 milhões de sacas —, as variações nas condições climáticas poderão afetar essas projeções. O USDA, por sua vez, já revisou suas estimativas para a safra 2024/2025, prevendo uma redução na produção de 3,5 milhões de sacas e registrando um significativo declínio nos estoques, que podem cair para apenas 1,2 milhão de sacas até o final do ciclo.
No que diz respeito aos estoques e à comercialização do café no brasil, o cenário é alarmante. A safra 2024/2025 apresenta um ritmo de exportação robusto, o que poderá acarretar uma redução nos estoques brasileiros para níveis historicamente baixos. Até o mês de outubro, cerca de 70% da safra já havia sido comercializada, sendo que o conilon atingiu 76% e o arábica 67%. Essa intensa comercialização pode restringir a oferta interna do grão no final de 2024 e no início de 2025. Mesmo diante de fatores como o adiamento da implementação do EUDR e potenciais cortes nas importações europeias, a expectativa é de que uma oferta mais escassa continue sustentando os preços, especialmente se forem confirmadas perdas significativas na safra 2025/2026 do arábica.
No panorama global, outros grandes produtores de café também enfrentam desafios semelhantes. A Indonésia, por exemplo, está vivenciando um período de entressafra, o que diminui sua capacidade de exportação. Por outro lado, países como Vietnã, na América Central e na Colômbia estão colhendo os frutos de safras que avançam para a produção no ciclo 2024/2025, o que pode resultar em volumes adicionais no mercado em um curto espaço de tempo. No entanto, os produtores, beneficiados por preços altos durante 2023 e 2024, parecem estar menos pressionados para realizar vendas rápidas, contribuindo para a estabilidade dos preços.
A situação climática também preocupa, pois as recentes tempestades e ciclones, especialmente na América Central e no Vietnã, aumentam os riscos para a oferta do café no ciclo 2024/2025. Na Costa Rica, por exemplo, dados do ICAFE indicam que cerca de 15% da safra foi comprometida. As expectativas de estoques globais estão se inclinando para uma redução significativa, devido à combinação do ritmo acelerado de exportações e a uma demanda internacional aquecida. As tendências indicam que o Vietnã está começando a mostrar sinais de retração na comercialização, e a maioria dos principais países produtores deve sofrer com quedas nos estoques finais.
Diante deste cenário de oferta restrita e demanda persistente, é provável que a pressão sobre os preços do café continue nos próximos meses. Com as incertezas climáticas e os desafios enfrentados pelos produtores, o mercado do café se mantém em um estado de vigilância constante, buscando compreender os desdobramentos de uma situação que pode impactar tanto a produção quanto a comercialização do grão essencial para milhões de consumidores ao redor do mundo.