Operação Expertise e as suspeitas de corrupção
A Polícia Federal (PF) está à frente de uma investigação que apura fraudes em contratos destinados à Saúde e à Educação em municípios do Pará, totalizando impressionantes R$ 198 milhões. Durante essa investigação, a PF registrou diversas alegações de entrega de dinheiro a servidores públicos. Os detalhes foram revelados em um relatório que embasou a operação Expertise, iniciada na manhã de uma terça-feira (2/9) e que se desenrolou ao longo de 2024, por meio de diligências secretas.
O foco principal da operação foi monitorar saques em dinheiro de grandes quantias, feitos por sócios de empresas contratadas por órgãos públicos do estado. A PF suspeita que esses saques estavam relacionados a pagamentos de propina a servidores públicos. A investigação começou a partir de informações de uma fonte, que indicou que Jacélio Faria da Igreja, um dos investigados e sócio da Líder Engenharia, estava prestes a sacar R$ 450 mil. A PF acredita que essa quantia tinha a intenção de ser usada para corrupção.
Movimentações suspeitas e flagrantes
Nos três dias de vigilância, os policiais monitoraram a movimentação de veículos e indivíduos ligados a empresas como Líder Engenharia, Max Empreendimentos, Brasil Brasil e Fortes Comércio. O primeiro registro ocorreu em 13 de março, quando um carro associado a Alex Jordano da Cunha, sócio da Max Empreendimentos, foi identificado nas dependências da Polícia Científica do Pará (PCEPA), órgão que havia contratado a Líder Engenharia.
No dia seguinte, Alberto Furtado, sócio da Brasil Brasil e da Fortes Comércio, foi observado durante uma movimentação bancária suspeita, onde ele se dirigiu a uma agência do Banpará. O relatório da PF menciona que Furtado foi visto seguindo de perto Jacélio Faria, ambos transportando bolsas que, segundo a polícia, estavam “aparentemente recheadas” de dinheiro. O destino desse veículo foi a empresa Cordobra Indústria de Telas, que anteriormente ocupava o endereço da atual sede da Max Empreendimentos.
Em 22 de março, Jacélio e Alex foram novamente flagrados na mesma agência, desta vez retirando R$ 600 mil. Após o saque, os dois seguiram para a sede da Polícia Científica do Pará, onde Jacélio foi recebido por um servidor. Essa dinâmica levantou suspeitas sobre a entrega de valores em espécie dentro do órgão público.
Padrões suspeitos e a rotina da corrupção
A PF também notou que a presença de Alberto Furtado no local reforçou a conexão entre os investigados. A corporação destacou que o padrão de saques repetidos de grandes quantias em dinheiro, logo após repasses públicos, com encontros entre empresários e servidores em locais públicos e órgãos contratantes, sugere a prática de crimes como lavado de dinheiro, corrupção ativa e passiva, e associação criminosa.
As operações da PF continuaram. Em 18 de abril, Jacélio foi visto na mesma agência do Banpará com uma bolsa preta, que já havia sido utilizada em outras movimentações suspeitas. Em seguida, Alex foi flagrado saindo do banco com mochilas cheias. A PF registrou que eles se encontraram e se dirigiram a um restaurante, onde se reuniram com Sandro Rogério Sousa Matos, servidor da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa). Suspeita-se que uma mochila entregue a Sandro continha dinheiro.
Esquema complexo de corrupção
As investigações indicam que Jacélio teve acesso privilegiado ao Detran/PA, o que sugere um possível esquema de entrega de recursos ilícitos. A PF observou que valores oriundos de contratos com a União, como os do Fundeb, estavam sendo sacados em espécie e entregues a servidores públicos, com o objetivo de garantir fraudes em licitações e outros benefícios indevidos.
Em 29 de abril, Jacélio foi novamente flagrado na agência do Banpará, permanecendo lá por mais de uma hora. Em seguida, ele foi visto no estacionamento privativo da Alepa, onde apenas pessoas autorizadas têm acesso. Esses eventos levantam suspeitas sobre um vínculo entre Jacélio e parlamentares.
Operação Expertise em ação
A operação Expertise revelou um esquema de corrupção envolvendo a contratação fraudulenta de empresas por órgãos públicos estaduais e municipais do Pará, explorando recursos federais do FUNDEB e do Fundo Nacional de Saúde (FNS). Durante a operação, a PF cumpriu 18 mandados de busca e apreensão e prendeu, preventivamente, cinco pessoas em Belém e Marituba, além de bloquear ativos e afastar servidores públicos.
A investigação mostrou um modus operandi que envolve empresários, servidores públicos e empresas de fachada. O esquema inclui direcionamento de licitações, saques em espécie e redistribuição de valores entre os envolvidos. Além disso, joias e dinheiro em espécie foram apreendidos durante as buscas.
Reações e defesas
O governo do Pará, o Detran e a Polícia Científica alegaram não ter conhecimento das irregularidades investigadas. A defesa de Jacélio Faria negou qualquer irregularidade, afirmando que ele não cometeu atos de corrupção. Por outro lado, a defesa de Sandro Matos considerou a prisão preventiva excessiva, argumentando que não há provas de interferência nas investigações. A análise detalhada das acusações será feita durante a instrução processual, onde a defesa pretende demonstrar a inocência de seu cliente.