Há aproximadamente 15 anos, por volta de 2008, fui convidado por meu amigo Sergio Lirio para iniciar minhas colaborações com o site da cartacapital. Essa jornada começou em um pequeno e sofisticado boteco localizado nos Jardins, uma área nobre de são paulo — um detalhe que muitos veículos de comunicação levantam para destacar status, mas que vale mencionar. Neste local, fiz amizades significativas, incluindo Lino, Matheus, Manuela, Clara Averbuck e Pilar Velloso. Esta última, por sinal, embelezou a capa do meu livro “Dominó de Botequim”, tornando-a uma verdadeira obra-prima. Naquela época, recebi a missão de escrever sobre o agronegócio. No entanto, sugeri que as matérias fossem abordadas de forma crônica, trazendo minhas experiências pessoais e minha paixão pelas tradições caboclas.
O agronegócio, que se apresentava como um emblemático símbolo do brasil, era amplamente exaltado nas páginas e telas dos veículos de comunicação, vistos como exemplos de sucesso. Contudo, fazer uma análise sobre o tema de forma monótona, sem provocar reflexões, não me parecia interessante. Afinal, não podemos ignorar as bagunças na economia e na política que permeiam o nosso país. Assim, solicitei liberdade na abordagem e me comprometi a entregar uma perspectiva que, até hoje, preserva a essência da crítica construtiva.
Um episódio marcante ocorreu em 2021, quando lutava na Avenida Paulista contra o domínio de personagens políticos, que pareciam determinados a arruinar o país. Esses líderes, avessos à ciência e afeições à violência, tinham como alvo a degradação ambiental. Este contexto me levou a me expressar não apenas através da escrita, mas por uma força intrínseca que me acompanha desde a juventude.
Após um incidente em que caí em casa, devido a uma neuropatia periférica diabética com a qual convivo há mais de 40 anos, deparei-me com um novo e desafiador capítulo da minha vida. A queda não foi por descuido, mas por um momento de êxtase, em meio a recordações dos anos 1980, quando novamente me via enfrentando as dificuldades trazidas pelo fascismo e pela insensibilidade social em um país rico, mas que ainda ignora a miséria que afeta sua população.
Recordo-me de voltar para casa após essa experiência sem igual, clamando ao sono do descanso cotidiano, enquanto me deixava levar por um forró com um punhado de temperos típicos do Nordeste. Como na “Feira de Mangaio”, celebrei a vida e, mesmo diante da adversidade, dancei em direção ao hospital. A reação dos médicos ao se depararem com meu estado foi inesperada, pois uma estenose de medula necessitou de cirurgia, mantendo-me com mobilidade limitada a partir de então.
Após essa fase de recuperação, percebi que o brasil estava em um estado alarmante de transformação e desordem. Um ciclo de tempestades e chuvas severas acabou se sucedendo por uma longa seca, incêndios devastadores dizimando vidas, ecossistemas e a produção agrícola. No entanto, é preciso ressaltar que, ao buscar por culpados, a reflexão correta deve abranger as mudanças climáticas que estão afetando tanto os ruralistas quanto os defensores do meio ambiente em todo o mundo.
Em um vídeo, produzido em uma fazenda de grãos no oeste do paraná, vi um agricultor experiente e bem equipado, lutando para recuperar-se dos danos causados pela seca e pelas queimadas que assolam a região. Questiono: por que falarmos em ações criminosas sem ao menos apresentar atores definidos nessa narrativa? Atribuir a culpa a grupos como o PCC ou Comando Vermelho é uma simplificação perigosa que desconsidera a complexidade do problema das queimadas, que devem ser discutidas à luz das mudanças climáticas.
Afinal, estamos vivendo um momento em que a conscientização sobre o uso do fogo na agricultura já não é mais aceito como prática comum. Aprendemos que o solo não é um recurso renovável em quantidade suficiente dentro da escala de vida humana. A formação de 2,5 centímetros de solo pode levar séculos para se desenvolver, enquanto pode ser rapidamente erodido por uma única enxurrada.
As queimadas, ao invés de auxiliarem nas práticas agrícolas, prejudicam a vitalidade dos ecossistemas e a qualidade dos recursos hídricos. O equilíbrio da biota do solo é essencial para garantir uma produção alimentar saudável e sustentável. Portanto, a lógica por trás das queimadas agrícolas, que foram reprovadas pela Lei nº 9.605, de 1998, já não se sustenta mais. Se hoje existem métodos e produtos que visam preservar e enriquecer a biota do solo, é nosso dever como sociedade promovê-los e utilizá-los.
Estejamos sempre atentos às práticas inadequadas que poluem, como a mineração predatória e o desmatamento, que ainda persiste, mas também à forma como podemos contribuir para um futuro mais sustentável. O brasil depende de uma agropecuária responsável, que não apenas traz divisas, mas que respeita a fauna, a flora e o nosso precioso solo. E assim, chegamos a um ponto crucial: as queimadas de hoje são uma consequência de anos de descaso, mas podemos reverter esse quadro. Portanto, é fundamental que aguardemos o futuro com sabedoria e consciência ambiental, conscientes de que alternativas sustentáveis estão ao nosso alcance.