Fiagro e as Necessidades do Agronegócio
Os agricultores brasileiros enfrentam um desafio crescente: a escassez de recursos do Plano Safra para atender às demandas do agronegócio. Essa realidade foi amplamente discutida em um evento realizado no início de dezembro, em São Paulo, onde produtores e especialistas em crédito compartilharam suas visões sobre o tema. A principal preocupação gira em torno da necessidade de investimentos privados para preencher a lacuna deixada pelos recursos públicos.
“Os Fiagros são a palavra-chave”, afirmou Moacir Teixeira, sócio-fundador da Ecoagro, uma empresa que oferece soluções financeiras para o setor agrícola. Segundo ele, a aproximação entre o setor agropecuário e o mercado de capitais pode ser a solução para a falta de financiamento adequado.
No contexto atual, o governo federal anunciou a liberação de R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 89 bilhões para a agricultura familiar em 2025. Contudo, o volume de contratações ainda se mostra aquém do esperado. Teixeira destaca que “o agronegócio não precisa apenas de custeio. Ele requer financiamento de longo prazo para se estruturar de maneira mais eficiente”.
Fiagros: Uma Nova Abordagem no Financiamento Rural
É nesse cenário desafiador que os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, conhecidos como Fiagros, começam a se destacar como uma alternativa viável para a captação de recursos no meio rural. Com a ampliação das opções de financiamento, os produtores rurais podem depender menos do crédito bancário e de linhas oficiais subsidiadas, como as do Plano Safra.
Contrariando a ideia de que o mercado de capitais é sinônimo de riscos elevados, o funcionamento do Fiagro pode ser visto como uma ponte que conecta agricultores em busca de recursos a investidores interessados em retorno financeiro no agronegócio. Especialistas alertam que, embora a volatilidade das commodities possa ser uma preocupação, ela deve ser encarada como uma característica natural do mercado.
De acordo com Teixeira, o verdadeiro diferencial dos Fiagros é a segurança de que “o recurso vai estar disponível na hora certa”. Ele observa que a falta de organização em alguns segmentos, como o de hortifrútis, impõe desafios. Os altos custos de implantação tornam difícil para muitos produtores acessarem financiamento direto. Em contrapartida, as cadeias produtivas de soja, milho, algodão, cana e café são citadas como exemplos de setores bem organizados e com maior facilidade de acesso ao crédito.
Cooperativas: Um Caminho para o Financiamento
Teixeira defende que a solução para os desafios do financiamento no agronegócio passa pela atuação de cooperativas e distribuidores. “Basicamente, o produtor sozinho não consegue, então esse é o caminho”, explica. Um exemplo emblemático é o CNA Fiagro, um fundo de microcrédito da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), criado para apoiar pequenos e médios produtores atendidos pela Assistência Técnica e Gerencial do Senar. Teixeira destaca que esse tipo de Fiagro oferece “o dinheiro mais barato do Brasil” em comparação com as linhas tradicionais do governo.
“O Pronaf e outros programas possuem muita burocracia. Mas com esse modelo de Fiagro, o produtor pode financiar praticamente qualquer coisa; é realmente a palavra-chave para o financiamento”, acrescenta.
Desafios em um Cenário Delicado
Entretanto, o cenário de crescimento dos Fiagros emerge em meio a um contexto crítico para o agronegócio, que enfrenta um aumento nos pedidos de recuperação judicial e um crescimento alarmante na inadimplência. Dados recentes indicam que o nível de endividamento no campo alcançou patamares históricos. “É uma luta constante, mas seguimos em frente”, conclui Teixeira.

