Na última terça-feira, 17 de setembro, ocorre uma sequência impactante de explosões envolvendo os pagers utilizados por membros do grupo radical libanês hezbollah. O trágico incidente resultou em 9 fatalidades e mais de 2.800 pessoas feridas, conforme noticiado pelo jornal The New York Times. A reportagem aponta que os dispositivos explosivos em questão foram fabricados pela Gold Apollo, uma empresa de Taiwan. Em resposta às alegações, a Gold Apollo esclareceu que a produção dos pagers foi realizada por uma subsidiária chamada BAC Consulting KFT, localizada em Budapeste, Hungria.
De acordo com informações divulgadas pela agência Al Jazeera, o incidente foi precipitado por um possível ataque cibernético que comprometeu os dispositivos do hezbollah. Contudo, há uma segunda linha de investigação defendida por especialistas, que sugere que os pagers podem ter sido sabotados por agentes israelenses infiltrados no movimento. Essa teoria ganha força, especialmente considerando que o hezbollah e israel são adversários conhecidos. Entre os modelos de pagers afetados, o AR-924 se destacou, mas o grupo também havia adquirido outros três modelos da mesma fabricante.
Sobre o funcionamento dos dispositivos, a carga explosiva implantada próxima à bateria pesava menos de 50 gramas e contava com um mecanismo que possibilitava a detonação remota. Os pagers estavam programados para emitir um alerta sonoro por alguns segundos antes de se tornarem letais. Informações da segurança libanesa indicam que esses pagers foram importados pelo hezbollah há cerca de cinco meses, adicionando um senso de urgência e complexidade à questão da segurança e da comunicação nesse contexto.
Os pagers, popularmente conhecidos como “bipes”, tiveram seu auge nas décadas de 1980 e 1990. Eles utilizam transmissões de rádio para enviar mensagens curtas, e requerem que o remetente ligue para uma central de atendimento para passar a informação, que é então retransmitida ao dispositivo do destinatário. Embora tenham caído em desuso com a popularização de smartphones, grupos como o hezbollah continuam a utilizá-los, principalmente devido à sua natureza menos conectada e à falta de sistemas de geolocalização, o que os torna menos suscetíveis a rastreamentos.
Nos últimos anos, sob orientação do líder do hezbollah, Hassan Nasrallah, militantes da organização foram aconselhados a evitar o uso de smartphones, temendo que a tecnologia israelense pudesse ser utilizada para espionagem. Com isso, os pagers passaram a ser vistos como uma alternativa mais segura para comunicações, especialmente para operações na fronteira sul do líbano, mas o recente ataque levanta importantes questões sobre a confiabilidade e a segurança desses dispositivos.
As teorias em torno do que causou as explosões são diversificadas, com uma das mais comentadas sugerindo a possibilidade de um ataque cibernético que resultou no superaquecimento das baterias dos pagers, fazendo com que explodissem. Outra interpretação, que parece ganhar mais apoio entre especialistas, é a de um ataque planejado na cadeia de suprimentos, onde os pagers teriam sido adulterados com explosivos durante sua fabricação ou transporte.
David Kennedy, ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, ofereceu sua perspectiva, indicando que as explosões observadas em vídeos eram grandes demais para serem meras falhas de software. Ele ressalta que é mais plausível que agentes israelenses tenham infiltrado o hezbollah e introduzido os explosivos diretamente nos dispositivos, ação que requereria uma estrutura complexa de inteligência e coordenação na cadeia de suprimentos.
Essa situação não só levanta questões sobre a proteção dos dados e comunicações dentro do hezbollah, mas também sobre o alcance das capacidades de inteligência de israel. O ataque aos pagers enfatiza a contínua luta pelo controle de informações e revela os desafios que as organizações enfrentam ao tentar garantir a segurança de suas comunicações em um mundo cada vez mais digital e conectado.
A inquietude que se instaurou após essas explosões sugere a necessidade de um exame mais profundo sobre as práticas de segurança adotadas por grupos militantes, especialmente em um contexto onde a tecnologia pode ser tanto uma aliada quanto uma vulnerabilidade. O questionamento sobre a eficácia dos pagers como instrumentos de comunicação segura agora aparece em destaque, e resta saber como o hezbollah responderá a esse novo desafio em sua estratégia de segurança e operação.