A Experiência de Detenção de Mahmoud Khalil

Após passar mais de 100 dias detido sem uma acusação formal e com a possibilidade de deportação, Mahmoud Khalil, estudante e ativista palestino, finalmente se pronuncia. Em uma entrevista com Christiane Amanpour, da CNN, ele compartilhou as dificuldades enfrentadas durante seu tempo em um centro de detenção do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA) e a frustração de ter sua permissão para estar presente no nascimento de seu filho negada.

“Foi uma experiência extremamente desumanizante para alguém que não foi acusado de nenhum crime”, afirmou Khalil, que possui green card. Ele não enfrentou nenhuma acusação criminal ou civil durante seu período de detenção, o que gerou grande indignação na sociedade americana.

Na última quinta-feira (10), os advogados de Khalil moveram uma ação judicial contra o governo Trump, buscando 20 milhões de dólares (aproximadamente R$ 111.000) em compensações. Eles alegam que ele foi detido injustamente e processado, sendo rotulado como antissemita devido ao seu ativismo em protestos pró-Palestina nas universidades, especialmente contra a guerra em Gaza.

Um porta-voz do Departamento de Segurança Interna chamou as alegações de Khalil de “absurdas”, mas a situação já havia gerado um forte clamor público.

O Sequestro e a Reação ao Ativismo

A prisão de Khalil ocorreu em março, diante de seu apartamento na Universidade de Columbia, em Nova York, quando ele retornava de um jantar com a esposa. Ele descreveu a abordagem dos agentes à paisana como um “sequestro”. Os oficiais seguiram-no até o saguão e ameaçaram sua esposa de prisão se ela não se afastasse dele. De acordo com a CNN, os agentes do ICE não apresentaram mandado durante a detenção.

O ativista, que nasceu em um campo de refugiados na Síria e se formou na Universidade de Columbia, teve um papel significativo nas negociações em favor dos protestos pró-Palestina dentro da universidade. Após sua detenção, ele foi transferido várias vezes entre centros de detenção, primeiro para Nova Jersey, depois para o Texas e, finalmente, para uma instalação do ICE na Louisiana, que ficava a mais de 1.600 quilômetros de distância de sua esposa, que estava grávida de oito meses.

“Eu fui literalmente transferido de um lugar para outro, como um objeto”, comentou Khalil, referindo-se à falta de dignidade durante o processo. “Eu estava sempre acorrentado.” Apesar disso, ele afirmou que a experiência no centro de detenção não abalou sua determinação. “Desde o momento em que fui detido, eu sabia que acabaria prevalecendo”, disse.

Condições de Detenção e Direitos Humanos

Enquanto relatou as condições precárias no centro de detenção do ICE, Khalil descreveu a comida como “quase incomível”. Após ingerir carne que o fez vomitar, ele optou por uma dieta vegetariana. O ambiente era extremamente frio, e seus pedidos repetidos por cobertores foram ignorados. “No momento em que você entra nessas instalações do ICE, seus direitos literalmente ficam do lado de fora”, expressou.

A CNN já havia tentado contato com o ICE para comentar sobre as condições da instalação na Louisiana, onde, segundo políticas, a detenção não deveria ser punitiva. A empresa GEO Group, responsável pela gestão do centro onde Khalil foi mantido, negou qualquer alegação de abuso.

Desafios e Futuro de Khalil

O governo Trump alegou que as atividades de Khalil representam uma ameaça à política externa dos EUA, controlando o discurso nas universidades contra o antissemitismo. Contudo, os advogados de Khalil refutaram firmemente essa acusação, argumentando que ele foi injustamente rotulado como simpatizante do Hamas sem evidências concretas.

Khalil expressou que as alegações contra ele são “absurdas” e ressaltou que sua luta é por direitos humanos e justiça para os palestinos. Ele acredita que essa tentativa de silenciá-lo visa intimidar outros ativistas. “É uma mensagem de que eles querem me usar como exemplo, mesmo que você seja um residente legal”, alertou.

Se sua ação judicial for bem-sucedida, Khalil pretende compartilhar os recursos obtidos com outros que sofreram tentativas de repressão semelhantes, além de buscar um pedido formal de desculpas e mudanças nas políticas de deportação.

Um dos momentos mais impactantes de sua detenção foi a recusa em permitir que ele estivesse presente no nascimento de seu primeiro filho. “Perder o nascimento do meu filho. Acho que foi o momento mais difícil da minha vida. Fizemos tantos pedidos para poder estar presente naquele momento”, lamentou Khalil. Ele ainda recorda a primeira vez que viu seu filho, atrás de um vidro grosso, sem poder segurá-lo, o que reforçou a dor da experiência que viveu.

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