A produção de soja nos Estados Unidos enfrenta desafios significativos à medida que a nova safra se desenvolve, e uma das principais preocupações dos agricultores norte-americanos é o ritmo lento das vendas da safra 2025/26. Com a china, um dos maiores importadores de soja, ausente do mercado devido às tarifas comerciais ainda vigentes entre os dois países, as compras de soja americana estão comprometidas. Atualmente, os EUA precisam vender pelo menos 15 milhões de toneladas de soja para garantir um fluxo de receita, sendo que um terço desse total precisa ser negociado até setembro.
Neste mês de junho, a ausência de compras chinesas é notável. Segundo Eduardo Vanin, analista do complexo soja e diretor da Agrinvest Commodities, “a china ainda não adquiriu nada dos Estados Unidos”. No ano passado, o país asiático comprou 95 navios de soja americana, o que foi crucial para sustentar os preços na Bolsa de Chicago. Com as vendas antecipadas da safra 2025/26 totalizando apenas um milhão de toneladas, em comparação com a projeção do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de 49,4 milhões de toneladas a serem exportadas, a situação é alarmante.
A falta de compras por parte da china pode levar a uma reação negativa do mercado. Vanin alerta que “se a china não começar a comprar, a situação pode ficar complicada e o mercado poderá descontar as expectativas em relação ao programa de exportação dos EUA”. Além disso, se o brasil, que atualmente enfrenta margens de esmagamento desafiadoras, conseguir aumentar suas exportações, isso poderá intensificar a competição com os Estados Unidos.
No brasil, as margens de esmagamento estão abaixo do ideal, o que pode resultar em uma redução no volume de soja processada, estimado entre 55,5 e 56 milhões de toneladas, com exportações podendo alcançar até 110 milhões de toneladas. Embora Vanin não projete uma queda significativa nos preços da soja, ele ressalta que a produção e o esmagamento devem ser monitorados de perto, já que a demanda da china é essencial. Para o analista, é imprescindível que a china compre pelo menos 15 milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos, e que um terço desse volume seja negociado antes da chegada de setembro, para garantir um programa de exportação viável.
Além da soja, o milho também está sob similar pressão, e a expectativa é de que os rallies de preços na Bolsa de Chicago sejam acompanhados de vendas efetivas. Os atuais níveis de preços trazem preocupação adicional, pois muitos produtores norte-americanos estão enfrentando margens de lucro apertadas, ou até mesmo negativas, tanto na soja quanto no milho.
Aaron Edwards, consultor de mercado do Sistema Manancial, destaca que o acompanhamento das dinâmicas de mercado é crucial após a recente alta nos preços. “Precisamos observar se haverá continuidade nesse atraso nos preços ou se muita soja será vendida nesta semana”, comenta. Para Edwards, o cenário atual limita os ganhos, mas não pressiona o mercado a cair imediatamente. Contudo, caso os preços se estabilizem, pode haver uma pressão adicional sobre as vendas, especialmente quando a colheita se aproxima.
Os produtores norte-americanos devem considerar suas realidades de custos e os percentuais de comercialização, pois os preços que superam US$ 10,50 têm sido comercializados nos últimos meses. Recentemente, na Bolsa de Chicago, os futuros da soja exibiram pequenas quedas, com o contrato para julho encerrando a US$ 10,72 e o de setembro a US$ 10,60 por bushel. O mercado tem apresentado volatilidade, influenciado por fatores geopolíticos, especialmente a tensão entre Irã e israel, que pode impactar as expectativas sobre o comércio global de commodities.
Diante desse cenário, os próximos meses serão críticos para a soja americana, e o sucesso do programa de exportação dos Estados Unidos dependerá, em grande parte, da resposta da china e da capacidade dos produtores de se adaptarem às condições de mercado em constante mudança.