A integração do uso de luz infravermelha monocromática à fisioterapia tradicional emerge como uma alternativa inovadora e eficaz no tratamento da neuropatia diabética periférica, uma das complicações mais comuns e debilitantes do diabetes mellitus. Essa condição afeta os nervos periféricos, principalmente nas extremidades, como os pés e as pernas, gerando dor e desconforto. Essa afirmação se baseia em um estudo conduzido na Universidade Federal de são paulo (Unifesp), que destaca como essa abordagem pode transformar a qualidade de vida de indivíduos afetados pela doença.
A neuropatia diabética é uma complicação que, em geral, se desenvolve ao longo do tempo, sendo influenciada pela duração do diabetes e pelo controle inadequado dos níveis de glicose no sangue. Normalmente, seus sintomas começam a aparecer entre cinco e dez anos após o diagnóstico do diabetes. As manifestações mais frequentes incluem dor neuropática caracterizada por um quadro intenso de dor lancinante, além de sensações incômodas como queimação, formigamento, agulhadas e dormência, conforme explica a enfermeira Denise Miyuki Kusahara, envolvida na pesquisa. Esse cenário pode se agravar em momentos de repouso e durante o sono, o que reduz significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Embora os medicamentos sejam frequentemente utilizados para o tratamento da dor neuropática, eles nem sempre são a melhor opção, devido aos efeitos colaterais associados, como boca seca, hipotensão postural e retenção urinária. Diante desse desafio, os pesquisadores buscaram explorar outras opções terapêuticas que pudessem atenuar o desconforto sem os riscos do uso de fármacos. “Considerando a relevância desse quadro na vida dos diabéticos, decidimos investigar a fotobiomodulação como uma resposta efetiva para a dor neuropática”, complementa Kusahara.
O estudo envolveu 144 pacientes diagnosticados com neuropatia diabética periférica, acompanhados na rede de atenção básica de São João da Boa Vista, interior de são paulo. A pesquisa, que contou com o apoio da Fapesp e foi publicada na revista Pain Management Nursing, dividiu os participantes em dois grupos. Um grupo recebeu tratamento com luz infravermelha monocromática de 890 nanômetros, combinado com fisioterapia que incluía eletroterapia e cinesioterapia. O grupo controle, por sua vez, apenas seguiu o protocolo de fisioterapia, sem a aplicação da luz infravermelha.
Ambos os grupos passaram por 18 sessões de tratamento, sendo monitorados ao longo de um período de dez semanas. As avaliações sobre a intensidade da dor foram realizadas em quatro momentos distintos, utilizando instrumentos e escalas reconhecidos para tal finalidade. Os resultados, analisados 30 dias após o fim do tratamento e seis semanas depois, revelaram que os pacientes que passaram pela terapia com luz alcançaram uma redução significativa nos níveis de dor e melhorias notáveis na qualidade do sono. Essa melhora foi ainda mais acentuada em aqueles que experimentavam dor intensa antes do início da intervenção.
Os dados indicam que a probabilidade de os participantes do grupo que recebeu o tratamento com luz apresentarem dor moderada a intensa foi 21 vezes menor em comparação com aqueles que não foram submetidos à intervenção luminosa. De acordo com os pesquisadores, essa descoberta demonstra o potencial dessa terapia como uma nova opção de tratamento para pacientes que lidam com a neuropatia diabética periférica. A tecnologia de fotobiomodulação pode ser implementada em diversos ambientes clínicos, como clínicas ambulatoriais, consultórios de atenção primária e centros especializados no tratamento da dor.
No entanto, a realização do tratamento necessita de profissionais capacitados. É fundamental que os terapeutas se tornem proficientes na utilização de dispositivos de luz infravermelha monocromática de 890 nm, conhecendo bem a configuração, a aplicação correta da terapia e o ajuste dos parâmetros, como a intensidade e a duração das sessões, de acordo com as necessidades específicas de cada paciente. “Para garantir que os resultados positivos sejam alcançados de maneira segura, é crucial seguir os protocolos estabelecidos e realizar um monitoramento cuidadoso para possíveis efeitos adversos”, adverte a pesquisadora.
Em suma, a combinação da luz infravermelha monocromática com a fisioterapia tradicional se apresenta como uma perspectiva inovadora no tratamento da neuropatia diabética, prometendo não apenas aliviar a dor, mas também melhorar a qualidade de vida dos pacientes. À medida que mais estudos confirmam esses resultados, essa abordagem terapêutica pode revolucionar o manejo da neuropatia e abrir novos caminhos para o tratamento do diabetes.