A estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (abin) foi utilizada para a espionagem ilegal de adversários políticos, um esquema que ficou conhecido como “abin Paralela”. Essa prática foi revelada após investigações da Polícia Federal (PF), que, nesta terça-feira (17/6), encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a conclusão do inquérito sobre o caso. Entre os indiciados estão o ex-presidente jair bolsonaro (PL), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-TJ), que foi diretor da abin, e o vereador carlos bolsonaro (Republicanos).

A investigação se concentrou no monitoramento de opositores e adversários políticos de jair bolsonaro, que ocorreu entre os anos de 2019 e 2021, durante a gestão de Alexandre Ramagem à frente da abin. As práticas de espionagem eram realizadas com o uso do software de inteligência israelense First Mile, que foi adquirido durante o governo do ex-presidente Michel Temer. Essa ferramenta tem a capacidade de rastrear a localização de indivíduos com base em dados capturados por torres de telecomunicações, permitindo um controle detalhado sobre os alvos monitorados.

No desenrolar da operação, foram identificados quatro núcleos distintos responsáveis pelas atividades clandestinas. O primeiro deles, designado como núcleo político, era composto por Luciana Almeida, assessora do vereador carlos bolsonaro, e Priscilla Pereira e Silva, assessora de Alexandre Ramagem. As investigações revelaram que essas funcionárias atuavam como intermediárias na troca de informações que eram de interesse da família bolsonaro, contribuindo para um cenário de espionagem política.

Outro núcleo importante, conhecido como Alta Gestão, incluía Alexandre Ramagem e outros servidores subordinados. A Polícia Federal apontou que a cúpula da abin tinha pleno conhecimento do uso indevido dos recursos da agência e tentou dar uma aparência de legalidade às ações realizadas. Juntos, esses dois núcleos teriam interferido em investigações da PF que envolviam os filhos de jair bolsonaro, criando provas em favor de Renan bolsonaro e elaborando relatórios para a defesa do senador Flávio bolsonaro.

Um terceiro grupo, apelidado de Portaria 157, tinha como objetivo associar parlamentares e ministros do STF à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Os investigados utilizavam o software First Mile para monitorar figuras influentes, como o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a ex-deputada federal Joice Hasselmann e o advogado Roberto Bertholdo, que tinha ligações com os parlamentares.

Por último, o quarto núcleo, denominado Tratamento Log, era encarregado de operar a ferramenta First Mile e inserir os números que deveriam ser monitorados pelo sistema. A Polícia Federal não descarta a hipótese de que existam outros núcleos não identificados e que mais servidores possam estar envolvidos nesse esquema de espionagem ilegal.

Esse caso levanta questões sérias sobre a utilização de recursos públicos e a ética nas práticas de inteligência, especialmente em um contexto em que a vigilância e o monitoramento de adversários políticos são cada vez mais debatidos. A investigação da PF busca não apenas responsabilizar os envolvidos, mas também esclarecer os limites e as responsabilidades das instituições de segurança pública no brasil. Com o avanço das investigações, a sociedade aguarda por respostas e possíveis consequências legais para os indiciados, além de um maior controle sobre as atividades da abin, que devem respeitar a privacidade e os direitos dos cidadãos. O desfecho desse caso pode ter implicações significativas para a política brasileira e para a forma como se entende a atuação das agências de inteligência no país.

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