Não é possível alterar a história, mas podemos a partir dela refletir sobre as possibilidades que se abrem para construirmos um futuro mais promissor. Essa visão é compartilhada por Rodrigo Dantas, psicólogo do Espaço Acolher do Plano Piloto, que explica a importância das unidades de atendimento psicossocial gratuito, dedicadas a vítimas e autores de violência doméstica. Instituído há 21 anos, o projeto, inicialmente denominado Núcleos de atendimento à Família e Autores de Violência Doméstica (Nafavd), hoje abrange nove espaços espalhados pelo Distrito Federal, sob a gestão do Governo do DF por meio da Secretaria da mulher (SMDF).
A secretária da mulher, Giselle Ferreira, ressalta que essa é uma política pública que já vinha se consolidando, mas que agora encontrou impulso para uma ampliação significativa. “Não é possível falar em proteção às mulheres sem considerar a figura masculina. É fundamental incluir homens nesse processo de conscientização, estimulando uma reflexão que reconheça a agressão como um ato de covardia. Com isso, trabalhamos para prevenir a reincidência da violência”, afirma Giselle, destacando que recentemente novas unidades foram inauguradas em Ceilândia, Sobradinho e Samambaia.
Celina Leão, vice-governadora do DF, também enfatiza a relevância do aumento no número de atendimentos registrados nos Espaços Acolher de 2023. Such a growth signifies not only a proteção crescente para mulheres vítimas de violência, mas também um trabalho fundamental de conscientização dirigido aos homens. “Os dados mostram que a nossa atuação está avançando efetivamente no combate à violência doméstica”, enfatiza Celina.
Os Espaços Acolher são os únicos locais públicos dedicados exclusivamente ao atendimento de autores de violência, que representam a maior parte dos atendimentos realizados. Em 2022, as unidades contabilizaram 9.604 atendimentos, dos quais 7.152 eram de suspeitos de violência. Neste ano, a iniciativa tem se expandido ainda mais, com 9,5 mil atendimentos registrados entre janeiro e outubro, abrangendo núcleos localizados em Brazlândia, Ceilândia, Gama, Plano Piloto, Samambaia, Santa Maria, Sobradinho, paranoá e Planaltina.
Com equipes compostas por profissionais de diversas áreas, como psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, os Espaços Acolher têm como principal objetivo proporcionar conscientização sobre a violência doméstica. Essa abordagem envolve atendimentos individuais e em grupo, voltados tanto para homens quanto para mulheres que foram direcionados por meio do Poder Judiciário, além de atender casos espontâneos.
Giselle Ferreira explica que “não se pode discutir a proteção às mulheres sem ter uma abordagem reflexiva em relação aos homens. É essencial conscientizá-los de que a agressão é inaceitável e trabalhar para evitar que isso aconteça novamente”. As sessões na unidade duram de três a quatro meses e são pensadas para ajudar os participantes a desconstruir conceitos de machismo, desnaturalizar a violência, desenvolver uma comunicação não violenta e aprender a expressar emoções de maneira saudável.
Sara Pires de Castro, psicóloga do Espaço Acolher do paranoá, ressalta a importância desses encontros: “Trata-se de um espaço raro onde os homens têm a oportunidade de se expressar e repensar padrões culturais. Nossos relatos indicam que muitos homens que passam por esse processo começam a transformar suas relações pessoais e profissionais.”
Elinaldo Santana, que foi acolhido em um dos espaços após um desentendimento familiar, compartilha sua experiência: “Conheci o local após uma discussão com minha enteada. Desde então, muita coisa mudou. As conversas com profissionais me mostraram que palavras podem ser tão agressivas quanto ações. Sinto que a cada sessão estou mais leve e decidido a mudar”.
Comemoração e Futuro
Em novembro, a política pública que suporta o Espaço Acolher celebrou suas duas décadas de atuação no Distrito Federal. Essa data significativa foi marcada por uma cerimônia na Câmara Legislativa, onde os servidores das unidades foram reconhecidos por suas contribuições valiosas.
Essa iniciativa, ao longo dos anos, não apenas ajudou a transformar a vida de milhares de famílias, mas também se firmou como um modelo de intervenção social essencial para reduzir a violência doméstica e promover um diálogo saudável e respeitoso entre os gêneros. A continuidade e expansão desse trabalho revela um compromisso genuíno com a construção de um futuro mais pacífico e igualitário para todos.