O Engano e a Crueldade das Redes Criminosas
Países como Bélgica, Grécia, Itália e Montenegro tornaram-se cenários de uma engrenagem cruel, onde mulheres brasileiras eram enganadas por meio de propagandas manipuladoras. Essas campanhas eram cuidadosamente elaboradas para seduzir jovens em busca de uma vida melhor, mas o que as aguardava era um panorama de tortura e opressão.
As promessas de emprego com salários atraentes foram disseminadas de modo estratégico, visando mulheres jovens, atraentes e saudáveis que sonhavam com a ascensão financeira. Os anúncios, com linguagem sedutora, assemelhavam-se a folhetos de agências de turismo: “Desfrute de uma comida deliciosa, uma atmosfera encantadora e uma arquitetura histórica. Estou em busca de sete a dez modelos com aparência juvenil, idades entre 18 a 24 anos e estaturas entre 1,60 e 1,80m!”, exclamava um dos textos.
Essas seduções financeiras se mostraram irresistíveis. Além dos pagamentos em euros, os “recrutadores” prometeram generosas gorjetas e verbas destinadas exclusivamente aos cuidados estéticos das candidatas. A esperança foi suficiente para que muitas embarcassem em uma jornada de 7.679 quilômetros, apenas para se deparar com a realidade sombria da exploração.
Uma Realidade de Violência e Exploração
Assim que chegaram à Europa, conforme relatado pela Polícia Federal (PF), essas jovens eram levadas para locais que, em nada, se assemelhavam ao que lhes foi prometido. A realidade era brutal: privação de liberdade, confiscos de documentos e jornadas de trabalho extenuantes em condições degradantes.
A organização criminosa operava de forma estruturada, tratando as vítimas como mercadorias. Logo após a chegada, as mulheres eram comercializadas por valores que variavam de €100 a €1000, dependendo da “experiência” que cada uma oferecia aos clientes.
A Hierarquia dos Criminosos
O esquema criminoso contava com uma hierarquia bem definida. No topo da cadeia, uma cafetina-chefe coordenava os “programas”, buscando sempre maximizar a exploração, com a meta de garantir que cada mulher rendesse pelo menos mil euros por dia. O lucro obtido, fruto do sofrimento das vítimas, era retido integralmente pela cafetina, que repassava apenas pequenas quantias às garotas traficadas. Recentemente, ela foi presa em São Paulo, em uma ação da PF.
Tráfico Humano no Coração do País
Os traficantes agiam impunemente, desafiando as leis no coração da capital do Brasil. A PF descobriu que parte da rede criminosa operava no Distrito Federal, facilitando o recrutamento e a organização dos atendimentos realizados na Europa. Curiosamente, o solo brasilienses era a terra natal da cafetina, uma ex-garota de programa que se tornou a mentora do esquema de tráfico humano.
Investigações Reveladoras
As investigações foram iniciadas em maio de 2024, após coletar informações a partir de diligências e a colaboração de uma das vítimas, que, ao retornar ao Brasil, compartilhou detalhes sobre a rede criminosa. No dia 15 de julho, a PF deflagrou uma operação de grande porte para desmantelar o grupo. O objetivo? Cumprir quatro mandados de busca e apreensão no DF e em São Paulo, além de um mandado de prisão preventiva, visando reunir evidências e aprofundar as investigações sobre a estrutura e o funcionamento da rede que aliciava e enviava as vítimas ao exterior.
Além disso, foram determinados o sequestro e bloqueio de bens no valor total de até R$ 6,6 milhões, e a apreensão de quatro passaportes, impedindo que as investigadas deixassem o país. Os suspeitos podem enfrentar acusações de associação criminosa e tráfico de pessoas. A investigação da PF continua em andamento, com o intuito de identificar todos os envolvidos e responsabilizar os autores desses crimes hediondos.
Informações e denúncias acerca do caso podem ser enviadas de forma anônima ao canal da PF, através do site www.gov.br/pf ou pelo telefone 194.