A Política Brasileira e o Capitalo-Parlamentarismo

Hoje, a política brasileira pode ser vista como uma construção dominada pelo capitalo-parlamentarismo, deixando em segundo plano práticas políticas efetivas. O governo Jair Bolsonaro, embora ainda mantenha apoio popular, é frequentemente desacreditado entre setores considerados “sérios” da sociedade, especialmente após sua abordagem inadequada à vacinação durante a pandemia de Covid-19. É importante recordar que, em 2018, Bolsonaro foi amplamente aceito pela elite econômica como a alternativa viável contra Fernando Haddad, que, embora não tenha um perfil fortemente esquerdista, foi visto como uma ameaça pela visão mais conservadora dos mercados.

A ascensão de Bolsonaro nos força a questionar suas reais diferenças em relação ao consenso capitalo-parlamentarista que se tornou comum no Brasil. Suas crenças refletem uma linha de pensamento que vê o socialismo e comunismo como inimigos a serem combatidos, associando a corrupção e ineficácia a práticas de esquerda. Em sua retórica, ele destaca ainda a necessidade de desregulamentação trabalhista e uma maior privatização, considerando que os principais privilegiados no país são grupos como professores e profissionais da saúde.

Esse discurso, por mais toscas que sejam algumas de suas manifestações, não é uma novidade total. O questionamento à legitimidade do processo eleitoral e a crítica ao “mundo político” têm permeado a política brasileira por anos. Apresentadores de TV e executivos do setor privado frequentemente são colocados como alternativas ao tradicional aparato governamental. Além disso, a busca por alinhar-se a líderes internacionais, como Donald Trump, revela uma contínua dependência de influências externas.

O advento do bolsonarismo teve um impacto significativo nas dinâmicas políticas do país, e o seu estilo, muitas vezes polarizador e apelativo, parece ter encontrado padrões familiares em outros líderes globais. O que diferencia os “democratas” tradicionais de Bolsonaro é, muitas vezes, apenas a sua forma de engajamento, uma vez que ambos os lados compartilham uma visão de que os EUA devem desempenhar um papel de liderança na política mundial.

Enquanto isso, o Partido dos Trabalhadores (PT) parece estar preso em uma luta para se manter relevante em um cenário dominado por uma direita mobilizada e ideologicamente alinhada. A estratégia atual do PT parece se basear em impedir a volta do bolsonarismo, limitando-se a ações que garantam alguma melhoria ao setor mais vulnerável da população sem apresentar propostas ousadas ou transformadoras. Contudo, isso é suficiente para contrabalançar a força da extrema direita?

Diante disso, é vital reconhecer que a política brasileira enfrenta um dilema complexo. Se a política se restringir a disputas entre facções do capitalo-parlamentarismo, as chances de uma real mudança social são mínimas. A experiência política dos Estados Unidos, com sua polarização esmagadora e debates ideológicos superficiais, serve como um alerta sobre o que pode se tornar a política no Brasil.

Para avançar, é necessário ir além do tradicional “oposicionismo”, que frequentemente se baseia apenas em críticas vazias e uma retórica de agitação sem substância. Formar uma base crítica que realmente questione o sistema e ofereça alternativas concretas é crucial. Em vez de apenas se manifestar contra os excessos do governo, é fundamental criar um movimento que busque uma nova arquitetura política.

É preciso perceber que, apesar de existirem movimentos sociais e organizações reivindicativas, isso não é sinônimo de uma política efetiva. A solução é promover uma estrutura de pensamento que busque uma real mudança e que evite o uso da política apenas como ferramenta para agitação ou protesto.

Dentro desse contexto, a formação de uma nova intelectualidade política é essencial. Isso envolve não apenas criticar o sistema atual, mas também traçar um caminho positivo em direção a um novo comunismo que se distancie tanto do antigo dogmatismo quanto dos erros do passado. É fundamental encarar a realidade da política brasileira e buscar construir novas relações com as massas, garantindo que a luta por direitos e melhorias sociais ganhe uma nova dimensão.

O apoio a movimentos populares e a luta por melhorias práticas na vida das pessoas são passos cruciais para um engajamento político mais efetivo. Além disso, puxar discussões sobre política em ambientes informais e formar vínculos com comunidades em busca de um entendimentocomum é uma das formas mais promissoras de transformar a insatisfação social em ações concretas.

Em suma, a política brasileira requer uma reavaliação urgente que transcenda as lógicas atuais do capitalo-parlamentarismo. Para que haja uma mudança real, é imprescindível um novo entendimento sobre a política que priorize a conexão com as massas e uma crítica efetiva ao sistema vigente. A luta pelo futuro passa pela conscientização e pela ação, visando a construção de um Brasil que reflita as necessidades e aspirações de sua população.

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