**El Niño: Efeitos nas Chuvas do Distrito Federal e na Produtividade da soja**
O fenômeno climático conhecido como El Niño Oscilação Sul (enos) continua a ser um tema amplamente discutido, especialmente em suas implicações para o clima no Brasil. Recentemente, pesquisadores da Embrapa trouxeram novas perspectivas ao identificarem e quantificarem como o aquecimento das águas do Oceano Pacífico influencia o regime de chuvas no Cerrado brasileiro, impactando diretamente a produtividade da soja na região. Este estudo, publicado na Revista Agrometeoros, revela dados que poderão ser decisivos para o manejo agrícola.
Os cientistas Alfredo Luiz, da Embrapa Meio Ambiente em São Paulo, e Fernando Macena, da Embrapa Cerrados no Distrito Federal, conduziram pesquisas meticulosas para entender a relação entre os anos de El Niño e as chuvas na área administrativa de Planaltina, no DF. A análise abrangeu uma série histórica de dados meteorológicos de 1974 a 2022, onde a equipe examinou registros diários de uma estação meteorológica instalada na Fazenda Experimental da Embrapa. Os resultados foram surpreendentes; durante os anos de El Niño, a precipitação entre outubro e dezembro – meses cruciais para o ciclo vegetativo da soja – caiu em média 40% em comparação aos anos de La Niña.
Luiz explicou a magnitude da descoberta, ressaltando que a temperatura do oceano, distante milhares de quilômetros, possui um impacto significativo nas chuvas do Planalto Central brasileiro. A pesquisa revelou que a média de precipitação durante os anos de El Niño foi de apenas 372 mm, enquanto a média em anos de La Niña chegou a 623 mm. Esses dados reforçam a necessidade de um planejamento agrícola que leve em consideração essas variáveis climáticas.
O método utilizado pelos pesquisadores incluiu o Indicador Oceânico Niño (ION), um índice que mede a temperatura da superfície do mar no Pacífico equatorial, fornecido pela NASA. A equipe classificou os anos em cinco categorias, baseando-se nos valores mensais do ION de 1974 a 2022. Anos em que o ION superou +0,5 °C foram identificados como El Niño, enquanto aqueles com valores abaixo de -0,5 °C foram classificados como La Niña. Ao separem essas categorias, foi possível calcular a média de precipitação e, consequentemente, avaliar a produtividade da soja.
Para complementar a pesquisa, os cientistas utilizaram um simulador avançado de crescimento de plantas, o STICS, que permitiu simular diferentes cenários de plantio e produção para duas variedades de soja em condições específicas do solo da Embrapa. Este modelo computacional, alimentado com dados meteorológicos históricos, possibilitou a análise da produtividade ao longo dos anos, considerando plantios realizados de setembro a dezembro.
Os resultados foram alarmantes. A produtividade da soja durante anos de El Niño mostrou-se drasticamente inferior, especialmente quando as semeaduras ocorriam no início da safra. Em um caso extremo, a cultivar BRS 8383IPRO apresentou uma média de 2.418 kg por hectare nos anos de La Niña, enquanto nos anos de El Niño o rendimento caiu para apenas 493 kg por hectare. No entanto, essa disparidade na produtividade diminuiu quando o plantio foi realizado nos meses finais da temporada.
Macena destacou que os efeitos das fases do enos são distintos dependendo da data de semeadura, levando a resultados negativos significativos nos primeiros meses de plantio durante fases de El Niño, enquanto La Niña trouxe efeitos opostos. Essa informação é crucial para agricultores e tomadores de decisão, que devem estar informados sobre a variabilidade climática para otimizar o planejamento agrícola.
O passo seguinte no trabalho da Embrapa é criar sistemas de alerta que antecipem condições climáticas extremas associadas ao enos. Segundo os pesquisadores, ter a capacidade de prever períodos climáticos favoráveis ou desfavoráveis antes do plantio pode ajudar a mitigar os danos e aproveitar as condições benéficas. Essa pesquisa é fundamental para criar estratégias que possam guiar os produtores em suas decisões sobre o manejo de culturas e períodos de semeadura, ajudando a reduzir impactos negativos e maximizar a produtividade.
O enos, um fenômeno climático de grande escala, provoca variações significativas nas condições climáticas globais. Ele é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, com consequências diretas sobre a precipitação e temperatura em várias regiões do mundo. Para o Brasil, os efeitos incluem secas no Norte e Nordeste, enquanto o Sul frequentemente enfrenta chuvas intensas. Já o La Niña tende a ter efeitos opostos, criando um desafio para o planejamento agrícola.
Compreender o El Niño e suas influências é essencial para a segurança alimentar. A variabilidade climática resultante do enos pode comprometer a produção agrícola por meio de flutuações nas chuvas e temperaturas extremas, sendo importante que as estratégias de cultivo e manejo sejam atualizadas e adaptadas aos desafios que esse fenômeno climático apresenta.