A falta de confiança mútua entre israelenses e palestinos torna atualmente mais difícil a viabilização de uma solução de dois Estados para o prolongado conflito no Oriente Médio, segundo a avaliação do embaixador de israel no brasil, Daniel Zonshine. À medida que se aproxima o primeiro aniversário dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, que resultaram em mais de 40 mil mortes na Faixa de gaza, o diplomata compartilha sua perspectiva na entrevista da edição mais recente do programa Vozes da Diplomacia.
O embaixador foi questionado sobre a escalada do conflito na região e os riscos de uma “guerra total”, especialmente após as recentes ações do governo de Benjamin Netanyahu em áreas como o sul do Líbano e o Irã. Zonshine defende as movimentações estratégicas de israel e enfatiza a necessidade de uma postura firme: “Não há espaço para demonstrar fraqueza no Oriente Médio”.
Em uma conversa aprofundada, o representante israelense começou a responder à indagação da CNN sobre o alto número de perdas humanas, refletindo sobre o impacto devastador dos ataques de outubro. Ele ressalta a complexidade de interromper um confronto quando um dos lados, como o Hamas, expressa abertamente o desejo de aniquilar israel. O embaixador enfatiza que a prioridade é a libertação dos reféns, destacando que há 101 reféns ainda sob custódia do Hamas, sendo que 35 deles não estão mais vivos. A pressão do tempo sobre as negociações para a libertação é preocupante, pois quanto mais tempo passar, menores serão as chances de que os reféns voltem para suas famílias.
Além disso, Zonshine aponta que é crucial assegurar que o Hamas não mantenha controle sobre a Faixa de gaza. O fortalecimento de uma autoridade palestina, com potencial apoio internacional, poderia abrir portas para um diálogo mais construtivo e um futuro de coexistência pacífica. Ele ressalta a necessidade imperiosa de evitar que ataques como os de 7 de outubro se repitam no futuro.
Foi então que ele discutiu os limites da resposta de israel, trazendo à tona a realidade de que, embora haja danos colaterais trágicos, a natureza do conflito é imposta pelas táticas do Hamas. O uso de civis como escudo, com ataques realizados a partir de locais como escolas e hospitais, torna a situação ainda mais complicada e deixa os civis vulneráveis a perdas irreparáveis, tornando difícil a proteção dos inocentes.
Zonshine também considerou a grande quantidade de ajuda humanitária que flui para gaza e observou que quase todo esse suporte acaba passando pelas mãos do Hamas. Ele explica que, embora o esforço humanitário seja massivo, o que realmente chega à população civil é apenas uma fração do necessário. A escolha do Hamas em mobilizar a guerra nesse contexto, utilizando civis como escudo, é uma das razões que dificultam as negociações, já que seus líderes operam a partir de países como catar e Egito.
Em meio a discussões sobre os recentes ataques de israel ao Hezbollah e ao Irã, o embaixador explica que a resposta de israel é uma questão de sobrevivência diante de um cenário de constantes ameaças. Ele aponta que o país não pode se dar ao luxo de ser complacente, especialmente após a chuva de mísseis que recebemos.
O embaixador também se detém sobre a crescente rixa entre o país e a Palestina, afirmando que o ressentimento histórico presente entre as duas nações é compreensível, mas que atualmente a situação se dá em um contexto muito mais tenso. Ele acredita que se as partes estiverem dispostas, é possível buscar um ponto de aproximação no futuro e que essa construção de confiança mútua poderia levar muito tempo, possivelmente anos.
No que se refere às relações entre brasil e israel, Zonshine concede que a diplomacia enfrentou desafios significativos, especialmente após declarações controversas do governo brasileiro. Apesar das dificuldades, o embaixador expressa esperança de que uma normalização nas relações seja possível, reconhecendo que há interesses mútuos que justificam essa reaproximação.
Finalmente, ao considerar as relações bilaterais, ele manifesta que a comunicação deve acontecer em esferas propícias e criativas, indicando que, com um esforço conjunto, é viável encontrar soluções que atendam a ambos os países e beneficiem seus povos.